Ela nunca entendeu o mistério daquele encontro.
Mesmo hoje, quando os afazeres de uma vida normal lhe assombram a rotina, a moça custa a crer que um dia, de fato, tudo aquilo aconteceu.
Era jovem, e sente uma falta danada da coragem que, à época, lhe enchia a alma e a vida.
Gostava de correr riscos. Aventurar-se, na medida certa. Como uma trapezista que dá o triplo mortal com a certeza de que há uma rede de proteção lá embaixo.
“Só se vive uma vez” – ele lhe disse em um dos primeiros encontros.
Achou melhor aceitar a frase como uma verdade absoluta.
Afinal, não tinha motivo para duvidar. Era a primeira vez que sentia a cabeça girar diante de alguém e, principalmente, havia o desejo enorme, incontido, de se deixar levar, de entregar-se, de ir com ele aonde quer que ele fosse.
Viveria aquele dia como se fosse único, derradeiro.
Não foi, pois vieram outros e outros e mais outros.
Nunca formaram um casal convencional.
Ao contrário, havia uma densa cumplicidade de corpos (e almas) mais do que quaisquer outros compromissos.
Vez ou outra, ela sentia falta de um projeto de vida, uma promessa, um aceno de futuro, por mais enganoso que fosse. Com o passar do tempo, é natural que apareçam laços e amarras. A vida precisa de uma plataforma de normalidade.
Ou não?
Nunca conversaram sobre isso.
A bem dos fatos, não conseguiam controlar-se um diante do outro. Ali, sim, entendiam-se perfeitamente.
Tanto que hoje, milênios de anos depois, mesmo vivendo em uma distante galáxia chamada “Vida Normal”, ainda se lembra das coisas como elas eram. Do gosto e do cheiro. Dos corpos ardentes,
E, ouvindo aquela velha canção do Roberto, custa a crer o quanto foi feliz.
“Olha, você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não importa eu gosto mesmo assim”
É nesse exato instante que lhe vem a grande questão. O ser ou não ser dos dias atuais:
“Será que aquele highlander tem whatsapp?