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Coxim, 1980

Coxim, 23 de janeiro de 1980

Meu chapa, um abração.

Há dias recebi seu bilhete e os jornais que agradeço.

Hoje, recebi notícias da Regina e da Leila e aproveito para responder a todos; inclusive a uma carta antiga da Dona Leda.

É melhor assim.

Não sei o nome completo das mesmas, então enfio tudo dentro de um só envelope e faço uma economia danada.

Gostei dos “ventos” da “abertura” que também sopram aí. Sua coluna está muito boa, vá em frente. Também depois de tanta convivência comigo, tinha de aprender alguma coisa, pó!

(É brincadeira, quem sou eu?)

O endereço que lhe mandei é apenas para correspondência.

Minha mansão fica a uns 15 minutos “rio abaixo” do centro de Coxim. A casa fica a 10 metros da margem do rio que, quando enche, alaga tudo. Já estou com as geladeiras e os freezers em cima das mesas. Camas, armários e outras tralhas já estão em um barracão que se situa em um lugar mais alto.

Dia 31/12, as águas chegaram na calçada do alpendre. Me deu um susto danado. Ainda tenho que esperar até março para ver como fica.

Que tal você mandar uma das meninas vir fazer uma reportagem sobre as enchentes do rio Taquari? Não precisa mandar fotógrafo…

O Coringão vai estraçalhar os periquitos, dia 27. Quer valer?

Outro dia ouvi no rádio referência ao Nascimento. Mando-lhe um abraço.

Quando houver oportunidade, mandarei fotografia aqui da chácara. É uma beleza!

Um abraço do

Zé Jofre

P.S. – Não gostei de ler meu nome no jornal. Os votos de Feliz Natal foram de cunho estritamente pessoal.

II.

Não há como, nem porquê.

Onde? Talvez…

No átrio vazio da Saudade, relembro o inesquecível Zé Jofre.

De tanto prometer a si mesmo, fez o que duvidávamos.

Abandonou o jornalismo.

Deu tchau a todos nós, da Redação, e se embrenhou no Pantanal.

Depois de tantas lutas em prol de um País mais justo e humanitário, ali viveu, em paz, seus últimos dias.

Ao reler a carta, me foi impossível não transcrevê-la.

Uma homenagem ao mestre e amigo.

Ele era de um tempo remoto em que os jornalistas acreditavam no que escreviam.

FOTO no Blog: Jô Rabelo

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