Fotos: Arquivo Pessoal
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5 – Made in Cambuci
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A idéia era aproveitar o dia ensolarado, de inverno atípico, para percorrer as cidades da COSTA AMALFITANA. Estávamos em dia com a programação da viagem, e não pretendíamos fazer nenhum pernoite. Havia pressa por retornar a Roma.
A estrada estreita e sinuosa corta as encostas rochosas e oferece visuais lindíssimos. O mar Tirreno é parceiro de viagem. Está sempre ali à sua direita. Também são presenças constantes as cidadezinhas incrustadas nos montes, o desenho irregular dos penhascos que quebram sobre o mar, as baias e a linha do horizonte.
Vez ou outra algum navio dar o ar da graça…
De tempos em tempos, aparece uma área de descanso. Têm como fundo,para variar, cenários deslumbrantes – e você se sente, como na velha canção, a um passo do paraíso: o azul do Tirreno, o azul do céu, os raios solares e o silêncio.
Saímos de Sorrento, faríamos o périplo de cidadezinhas e pretendíamos chegar em Salerno – a última e maior cidade da Costa. De lá, retomaríamos a auto-estrada – sem limite de velocidade, onde os carros voam – e voltaríamos para Roma.
Esta era a idéia…
… até chegarmos a Maiori, pouco mais que uma aldeia à beira-mar. Nada muito diferente de Positano, Castelo del Mare, Ravello, Minori e outras tantas que compõem a delícia daquela da região, com duomo no alto da colina, calçadão arborizado onde as pessoas vão `palestrar` no fim de tarde, um pequeno ancoradouro, pescadores solitários e seus barcos e algumas plataformas mar adentro.
Eram pouco depois das três da tarde. Nesta época, escurece cedo na Itália, por voltas das 17h30. Então, um bem-aventurado lembrou a possibilidade de assistirmos a um indescritível pôr-do-sol, mas teríamos que mudar nossos planos.
Ou seja, há uma Maiori no meio do caminho.
No meio do caminho, há uma Maiori – e nos deixamos ficar entre embevecidos e apaixonados.
Numa ruazinha paralela à avenida da praia de areia escura, o hotel San Francesco nos acolheu alegremente, diria. Para um sábado de inverno, novas levas de turistas são sempre bem-vindas num balneário europeu.
Rapidamente, acomodamos as bagagens nos dormitórios e saímos a explorar a cidade.
O que significa dizer: andar pra lá e pra cá, sem rumo, nem destino.
À noite, nos encontramos para jantar e comentar as pequenas – e importantíssimas – descobertas que cada um fez: uma cafeteria “que é uma gracinha”, uma igrejinha barroca, o presépio – obrigatório em todas as cidades,
um objeto típico, coisas assim.
Todos concordavam: o pôr do sol foi deslumbrante.
Me imaginei um escritor de sucesso.
Não teria dúvidas em lá me estabelecer. Seria meu refúgio para escrever romances `históricos`– aliás, na Itália, uma das palavras que mais se ouve é “histórico”. Com alguma razão, mas outro tanto de exagero, tudo é histórico.
Mas, isso não chega a incomodar.
Na verdade, estávamos mesmo a um passo do paraíso; não fosse um dos solícitos garçons do restaurante onde jantamos.
Ele cismou que eu era ítalo-americano e desandou a falar inglês comigo. Eu nada entendia, e me socorri do meu filho para desfazer o equívoco.
— Diz para ele que eu sou brasileiro. B r a s i l e i r o!
Acho que entendeu. Mas continuou a falar em inglês com o grupo. Estava se achando, pensei.
Confesso que fiquei invocado.
Mas, estava tudo tão bom que deixei pra lá.
À saída, porém, o moço veio para o meu lado.
Simpático, arranhou, como pôde, uma despedida num português macarrônico.
— Até a próxima, amigo.
Fiquei tão surpreso quanto arrependido.Sem graça mesmo…
— Ok, ok, ok…, respondi toscamente, como autêntico ítalo-americano made in Cambuci.
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* Publicado originalmente em 07/02/2007
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