Fotos: Arquivo Pessoal
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33 – Em nome da arte de Paul Cézanne
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Tinha boas referências de AIX EN PROVENCE como uma das mais ricas cidades da Provença no âmbito cultural, artístico e arquitetônico. Lá, inclusive, nasceu e morreu o pintor Paul Cézanne que, registre-se, tem monumento alusivo à sua memória em um dos jardins da Place de la Rotunde.
Foi com essas perspectivas, do tal mergulho cultural, que chegamos à cidade em uma das tardes ensolaradas de inverno.
A procura por um hotel razoável – e compatível aos nossos bolsos – demorou mais do que imaginávamos. Até ajeitarmos nossos trens no Hotel Mozart – olhem o nome do hotel, aqui se respira cultura – foram horas perambulando pelas arredores do centro antigo.
Nessas idas e vindas, perdemos a hora do almoço – os restaurantes fecham às 15 horas impreterivelmente e só reabrem para o jantar às 19 – e tivemos que nos virar com uma lanchonete, especializada em comida turca e assemelhadas, tão comum naquela área do sul do França.
Não fiquei nenhum pouco chateado.
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Fui direto ao assunto assim que entrei na casa, nem me dei conta de que estava longe do Brasil:
— Para mim, um kebab, por favor!
Ao me ouvir, o simpático atendente também não se fez de rogado:
— Brasiliano? Welcome, bienvenido…
Diante da minha surpresa, e pelos risos dos que estavam ao redor, o moço reforçou todo o conhecimento que gostaria de demonstrar sobre o nosso País:
— Neymar, Romário, Ronaldo… futbol…
E desandou a fazer perguntas sobre a Copa do Mundo, com vivo interesse de quem planejava estar entre nós em 2014.
Não me perguntem o idioma que o homem atarracado e falante usava, pois não saberei lhes dizer. Estava entre o inglês macarrônico (melhor que o meu, diga-se) e o portunhol afrancesado.
Eu lhes respondia na base das mímica e com abanos de cabeça:
— Sim, sim, não não… Oui, oui… Je ne c’est pas…
Um português, ali radicado, que acompanhou o non sense da cena, resolveu intervir:
— Ele quer saber se o Brasil é seguro… A gente ouve tantas coisas por aqui. Fica sempre aquele temor.
Outro abano de cabeça como resposta.
Sei lá o que o chapeiro entendeu da minha resposta ao portuga.
Mas, seja o que for, ele resolveu declarar para quem torceria, caso aqui viesse:
— Marrôco, Marrôco, Marrôco, cantarolou como se estivesse no estádio.
O cara era marroquino, pode?
— Mas, e se o país dele não se classificar, para quem ele vai torcer, resolvi provocar.
Meus interlocutores trocaram algumas palavras que, sem apertar a tecla SAP, pude entender perfeitamente.
Ele torceria pelo Messi, “o melhor jogador de todos os tempos”.
Senti o golpe, e resolvi mudar de assunto:
— Vamos falar de arte, de Paul Cézanne, por favor, vim aqui por isso.
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* Publicado originalmente em 28/01/2013
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