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Crônicas de Viagens – Paris & Versalhes

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Fotos: Arquivo Pessoal

28  – Retratos parisienses

O que posso lhes dizer?

É um zás-trás seis dias em Paris.

Quando você dá por si, já era…

Hora de dizer adeus. Au revoir.

Na melhor das hipóteses, vale um até breve.

Ou, no idioma local, à plus tard.

São tantas as emoções, diria aquele nosso Rei.

Museus, igrejas, parques e jardins, cafés, restaurantes.

Andanças e mais andanças.

Acompanhem-me:

Uma volta no Quartier de Latin.

Um rolê em Montparnasse, o bairro dos artistas.

(Dizem que Hemingway andou por lá.)

Conhecer o Moulin Rouge.

(Só a fachada, pois o ingresso mais barato passava dos 100 euros).

No Louvre, flertar com a Monalisa e rever o autorretrato de Van Gogh.

Visitar o Museu de Picasso – e sempre se surpreender.

Quer uma imagem bela?

Reparem aquele grupo de jovens estudantes de artes. Totalmente envolvidos com seus rabiscos e sonhos enquanto têm como modelos as obras do Museu D’Orsay.

Ah, retornar a Torre Eiffel, só mais uma vez! Nunca é demais.

Comprar uma Lacoste na loja da avenue Champs Éllysées.

– Mas, é feita no Peru, pai!

– Mais vale um gosto, filho…

Bisbilhotar as novidades na Galeria Lafayette.

– Vou só olhar, juro!

Assim, sim, as horas voam…

Vamos aproveitar que parou de nevar e perder-se no Jardin du Luxembourg, imenso e belo mesmo no inverno.

Um passeio de barco no Rio Senna – e lembrar o grande Reali Júnior, combativo jornalista brasileiro que, por anos, foi correspondente em Paris e tinha como bordão “às margens do Senna junto a maison de la radiô”

Uma bebericagem nos bares charmosos da Île Saint-Louis.

Assistir à missa das 18 horas na Catedral de Notre Dame.

Andar e andar e andar…

Até cansar.

Para fugir dessa entediante rotina, tiramos um dia para visitar a pequena Versalhes.

É pertinho. 30, 40 minutos de Paris. De trem ou metrô. Escolha a gosto do visitante.

Leio no fôlder que é uma cidade construída a partir do desejo do Rei Luís XIV para sede do governo e, assim algo distante, escapar ao zunzunzum das cortes parisienses.

Lá se ergueu o magnífico palácio rodeado de amplos jardins que inspirou, em linhas gerais, o nosso Museu do Ipiranga.

Nevou além da conta no dia da nossa visita.

Mas, deu pra ver que faz sentido a analogia. Mas, em proporção bem menor.

Digamos que o nosso Museu é uma réplica bem ajeitadinha.

Voltamos para Paris ao entardecer

Uma fome danada.

Combinamos jantar de despedida numa honesta cantina italiana, próxima ao hotel.

Antes preciso de uma água e um café básico.

Entramos numa brasserie de aspecto antigo, com prateleiras trabalhadas em madeira e amplo balcão de mármore no estilo. Tem mesinhas na área externa coberta por um toldo listrado em verde e branco. Escolho sentar-me junto ao balcão, mais prático e rápido, embora ninguém ali manifeste pressa alguma.

É deste posto de observação que vejo chegar a jovem de pouco mais de 20 anos.

Ela senta-se numa das cadeiras da área externa. Livra-se do casaco, ajeita os cabelos pra lá e pra cá (deve ser força do hábito, pois lhes caíram exatamente como estavam) e pede um café.

Ato contínuo, abre a bolsa.

Adivinhem?

Saca o celular e o coloca sobre a mesa, como se fosse usá-lo a qualquer momento.

Na sequência, sem cerimônia alguma, puxa um papelote e um saquinho esverdeado, de onde retira um punhado de fumo.

– Não acredito, digo aos botões do meu sobretudo que giraram para esquerda e para a direita, tão atônitos e curiosos como eu.

Como reagiriam as pessoas que nos faziam involuntariamente companhia no lugar?

Seriam indiferentes ou haveria barulho?

Nada disso.

Me alerta o garçom que nos atende – e é mineiro de São Sebastião do Paraíso.

– Se espante, não, sô! Desencana, paulista. Não é nem um bocadim do que ocê tá pensando. É tal e qual esses fuminhos de corda, tradicionais, que os caboclos brasileiros pitam, de cócoras à beira da estrada, só pra gastar o tempo e ver a vida passar. Pois é… É isso devidamente embalado… É moda entre a garotada que se diz naturalista.

Pergunto se o rapaz tem o dom da telepatia. Leu meu pensamento.

Ele ri e diz:

– Nada disso, sô! Conheço o meu povo…

Concluo:

Isto também é Paris!

Precisei atravessar o oceano, só para ver a cena e comprovar.

Amanhã partimos.

 

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