Fotos: Arquivo Pessoal
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45 – A tal história…
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Desde a mais tenra idade, ouço dizer que as tais existem.
Acho que foram meus próprios pais quem delas me falaram pela primeira vez. Ou terá sido minhas irmãs, ávidas por encher de fantasia a cabeça do irmão caçula?
Enfim…
Falaram-me de tantas e tamanhas proezas que, posso lhes dizer agora, houve um tempo que preferia nem ouvir o nome das mesmas.
Verdade.
Suas representações em livros e enciclopédias ilustradas infantis lançavam mais temores do que, a mim, podiam esclarecer.
Tinham um olhar maroto, debochado, nada confiável.
Cresci – e acabei me esquecendo do mito e dos medos.
Não me recordo se cheguei a vê-las, ao vivo e em cores, em algum zoológico da vida.
Certamente, se as vi, não me causaram tanto impacto como agora aconteceu.
Fiquei assim um tanto entretido, outro tanto aliviado.
E disse para mim mesmo:
— Ah! É daí que vem a tal história, então? Faz sentido. Faz sentido…
Me desculpem o delírio.
Estou aqui a tergiversar com o teclado e a tela – e mal lhes informei de quem estou falando.
Devem mesmo me achar um tantã – e não lhes tiro a razão.
Falo das cegonhas.
Pois é, delas mesmo.
Em penas, bicos, carnes, ossos, pernas longas – e ninhos que, aliás, são enormes e estão lá nos pontos mais altos junto às cúpulas e as torres das catedrais e castelos da Espanha.
Cena comum em pelo menos quatro cidades que visitei: Segóvia, Ávila, Burgos, Salamanca e mesmo aqui em Pamplona.
Ao que pude observar, as cegonhas têm uma predileção especial por igrejas.
O fato talvez reforce a lenda de que são as responsáveis pela chegada dos bebês ao mundo.
A bem da verdade, nem sei se os pais ainda usam esse folclore para explicar o pudicamente inexplicável.
No entanto, ao vê-las, em pares, a supervisionar o ninho que parece um cesto de palha, com bojo arredondado –, reforça-se o conceito de família e dá mesmo para acreditar que são as mensageiras do futuro.
Os turistas se encantam com a cena.
Dá-lhe fotos.
A fêmea mais próxima ao ninho e o macho, em alerta, não distante dali. Lá no alto. Às vezes, o tal se põe a desafiar o vento e os rigores do inverno a equilibrar-se em uma só perna na ponta mais fina da “agulha” da torre que se projeta para o céu.
Vigia, intrépido que é, a tranquilidade do lar doce lar.
Repito. Dá até para acreditar: são os primeiro seres terrestres a nos levar no bico.
Depois, vale reconhecer, crianças ou não, vida afora nos acostumamos com a sina.
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Estamos em PAMPLONA, a cidade onde acontece a tal Largada dos Touros mais barulhenta e famosa de toda a Espanha.
É capital da Província de Navarra, norte do país. Quase 200 mil habitantes.
Amanhã partiremos para outras cidades: Valladolid, San Sebastian e, talvez, Bilbao.
Ainda não fechamos o roteiro.
Entre meus pares, professores e jornalistas, comenta-se sempre sobre o curso de Jornalismo, dos mais requisitados, que existe na Universidade de Navarra.
Me dizem que tem um forte componente religioso – e conservador.
Não sei se vale a visita.
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Embora os dias estejam ensolarados, com temperatura suportável (a dispensar os capotes), estamos sem tempo para completar o trajeto que pretendemos e finaliza em Madri.
Defendi uma possível parada para almoço na cidade de Tordesilhas, fica no caminho para Valladolid.
Queria conhecer o local onde se protocolou o tal Tratado das Tordesilhas, aquele mesmo histórico que dividiu a América portuguesa da América Espanhola e cravou as tais capitanias hereditárias.
Lembram?
Aprendemos no primário. Não esqueço o ano: 1540.
Sei que, desde então, pegaram as manhas de nos levar no bico.
Deve haver um congresso de cegonhas por lá…
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* Publicado originalmente em 29/02/2008
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