Juro que a minha vontade era levantar de onde estava e interromper a conversa do casal da mesa ao lado e lhes dizer na lata:
— O que vocês estão esperando para dizer que se amam e a separação foi um grande equívoco?
Como não nasci para cupido, preferi ficar onde estava a observá-los.
Quando cheguei já estavam ali naquele papo de pato para ganso – e assim continuavam. A dar voltas e voltas no passado recente em que, suponho, andaram distantes um do outro. Só que o brilho nos olhos dos dois entregava o que lhes ia à alma e ao coração.
Para eles, nada existia ali, além dos próprios e, claro, dos anseios algo confusos.
Sempre que o jovem garçom chegava perto para tirar o pedido do almoço, um deles se precipitava em afastar o rapaz dali:
— Mais tarde a gente te chama, ta?
Vez em quando, faziam longas pausas de segundos, de silêncio e suspiros.
Imagino que lembravam os tais bons momentos e, calados, imaginavam como seria se não houvesse o que houve: a separação
— Eu era tão boboca, impulsiva. Criança mesmo.
Ela disse, ele desconversou.
Em outro instante, o homem falou da tal canção do Roberto, aquela que diz:
— Você é a saudade que eu gosto de ter.
Foi a vez de ela desconversar. Mas, era visível o encantamento.
Resolvi ir embora. Já dera a minha hora.
Não seria mesmo de bom tom meter o bedelho onde não fora chamado, nem deveria ser ouvido.
Além do que, essas histórias quase sempre têm o mesmo final.
Esses dois, no fundo, nunca se separaram de verdade.
Mas, também nunca vão se reencontrar.
É da vida e dos amores.
FOTO no Blog: Caio Kenji