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Dabahia e as nenecas

— Um beijo Neneca…

Naquela redação de piso assoalhado e grandes janelas, todos andavam encafifados – e este era bem o termo – com os telefonemas do Dabahia. Assim mesmo que o distinto gostava de ser chamado e ter o nome grafado para referendar o lugar de onde viera há algum tempo.

Ex-boleiro que a cachaça afastou dos gramados, ex-roqueiro no tempo em que roqueiro brasileiro tinha cara de bandido, ex-artesão de bijuterias na Feira Hippie da Praça da República, ex-past up que só quem trabalhou em jornal em tempos idos sabe o que é, mas vou logo explicando era uma figuraça, ex-isso, ex-aquilo e aqueloutro, Dabahia só não era ex no âmbito das mulheres. Pois, como o próprio dizia, ele as acumulava "talentosamente".

É daí que surgiam as nossas tolas divagações e inquietudes:

"Um beijo Neneca" – isso lá é jeito de se despedir da mulher amada. Ou no mínimo que se entende amada. Até porque, para quem não conhece, cabe a explicação. Neneca era o goleiro do Guarani, campeão de 1978. Diga-se lá não era um primor de beleza. Não era um campeão nesse quesito.

Dabahia ria e desconversava. Apresentava um bom argumento. Para não se confundir entre tantas e tamanhas, ele usava o expediente magnânimo, mas de gosto duvidoso. Chamava a todas de Neneca.

Inexplicável para nós. Mas devia fazer algum sentido para ele.

E nem ousávamos imaginar qual…

Também recriminávamos o amigo quando de corpo presente. Mas, em conversas paralelas, ficávamos a imaginar como seriam as tais "nenecas" – e não éramos condescendentes, não. Para nós, eram todas barangas e malamadas. Que se agarravam a um grosseirão daquele por que nenhum outro homem queria nada com elas.

Hoje sei. Era pura inveja. Desconfiávamos. Quer dizer, sabíamos que a doce Lucilla, assim mesmo com dois eles e antes do Collor aparecer, a elegante e simpática Lucilla, que todos nós da redação cobiçávamos secreta ou abertamente. A meiga Lucilla era uma das tais nenecas.

Para nosso desconsolo.

Aliás, sobre o tema, cabe a reflexão.

O homem sempre sabe quando toma uma bolada nas costas. Sempre. Só que malandro que é malandro não põe na banca para não perder a pose.

Afinal, quem é é. Quem não é não se conforma. Mas se ajeita