Reprodução: YouTube
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Era garoto e, intrigado, eu o via na TV em preto e branco, lá de casa.
Usava um uniforme parecido com o do Jim da Selva, aquele do cinema.
Achava o máximo.
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Aldão, meu pai, sem vontade para memorizar o nome do herói – Johan Dalgas Frisch – preferiu renomeá-lo como “o Alemão dos Passarinhos”.
Nada a ver.
Dalgas Frich era paulistano e filhos de imigrantes diamarqueses.
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Tido e havido como uma excentricidade naqueles primórdios dos anos 60, tinha formação em engenharia e a paixão maior pela ornitologia (ramo da zoologia que se dedica ao estudo das aves a partir de sua distribuição na superfície do globo).
Dalgas Frisch se embrenhava mata adentro com suas engenhocas eletrônicas para captar e gravar os cantos dos pássaros nativos.
Na TV, diante dos embevecidos apresentadores, ele mostrava o resultado do trabalho: os maviosos trinados das aves brasileiras.
O mais enigmático deles todos – e o mais raro também – era o canto do uirapuru; se bem me lembro, só encontrado nos grotões da selva amazônica.
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Meu olhar de menino era puro encantamento.
Imaginem!
Soube então que tais registros seriam reunidos em discos.
Não resisti.
Pedi ao pai para comprar alguns daqueles álbuns.
Queria colecioná-los.
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Aldão, como sempre debochado, não teve dúvidas.
Orientou-me a ir para casa da minha avó Ignes na rua Lavapés e limpar as gaiolas dos passarinhos do vô Carlito.
O vô tinha lá vários canarinhos da terra, alguns pintassilgos e um arisco azulão.
“Assovia pra eles que eles respondem pra você. Não é igual, mas é bem parecido.”
Meu pai decididamente não era um homem da ciência.
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Dalgas Frisch morreu sábado (22) em São Paulo aos 93 anos.
É considerado o pioneiro na luta pela preservação do meio-ambiente no Brasil.
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O que você acha?