Com a permissão de todos, quero perseverar por esses próximos dias na temática de ontem: o tempo. Esse tal que, não canso de escrever e lembrar, “não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém” (versos de Reginaldo Lessa).
Do tempo que vem, do tempo que vai.
Do tempo que o tempo tem.
De querer o tempo de volta.
Ou a volta daqueles tempos.
A neura, muitas vezes, é a de sempre:
Não matar o tempo.
Não desperdiçá-lo.
Não perdê-lo.
Não vê-lo esvair-se pelos vãos dos dedos.
Ou no lindíssimo entender de Caetano que fez a sua Oração ao Tempo,
“compositor dos destinos, tambor de todos os ritmos”.
Não me recordo a pretexto de quê, uma das amáveis leitoras deixou, certa vez, comentário no blog para que eu escrevesse sobre o tempo e suas implicações. Se os prezadíssimos tiverem a paciência que não tenho, poderão ver no índice de procura que, vira e mexe, estou aqui a tangenciar o tema – mas enfrentá-lo de frente, é que são elas.
Até porque “ele (o tempo) sabe passar. Eu não sei.”, como ensinou o poeta Aldir Blanc. Mesmo assim, é o que farei a partir de hoje.
Tentarei saldar a dívida com a leitora.
No mínimo, no mínimo, ela (se é que permanece por aqui) e vocês terão algumas histórias curiosas.
I.
A cineasta Izabel Jaguaribe flagrou o dia-a-dia do cantor/compositor Paulinho da Viola em um requintado documentário. Num dado momento das filmagens, Izabel quis saber do artista como era a vida “no seu tempo”. Referia-se obviamente aos anos 60 e 70 quando o sambista despontou com sucesso e a música brasileira vivia um momento riquíssimo, bem diferente dos dias atuais.
Ao ouvir a indagação, Paulinho, que é uma figuraça, arregalou os olhos e tascou:
— Meu tempo? Meu tempo é hoje…
Resultado:
“Meu Tempo È Hoje” virou título do documentário.
Imperdível.
A trilha sonora, deliciosa, foi lançada em CD pela Biscoito Fino.
II.
Vou vender como comprei.
Portanto, não posso assinar e dar fé.
Mas, é interessante, então vou contar.
Um amigo que entrevistou o Benjor me disse que ele tem verdadeiro horror a alusões ao passado mais remoto. Quando alguém lhe mostra um daqueles vinis antigos e pede para que autografe, ele diz que não dá para assinar porque aquele cara da foto não é ele – é um tal de Jorge Ben.
Brincadeiras à parte, acho que Jorge Duílio Lima de Menezes – o verdadeiro nome deste carioca de Rio Cumprido, já entrado e vivido nos seis ponto qualquer muita coisa – tem lá sua razão.
Nada mais constrangedor do que sentir que as pessoas lhe empurram e confinam a determinada época.
Falo até por experiência própria.
Dá a sensação que você está fazendo hora extra neste mundo.