III.
O tempo passou na janela só Carolina não viu…
Será?
Carol estudava Jornalismo e ficava por ali na Redação a observar a tudo e a todos. Tinha 20 anos, pouco mais, talvez? O Nasci já era cinqüentão por essa época. Não preciso dizer que ela se encantou com as histórias do Velho.
Em uma dessas tardes de verão, choveu o universo em São Paulo. Saímos para fazer a cobertura jornalística. O Nasci, como de costume, ficou ‘fechando’ a coluna sem se empolgar com a torrencialidade do mundo exterior.
A linda estagiária preferiu lhe fazer companhia. Há quem diga que assustou-se com a possibilidade de sujar os pés na lama das inundações.
Carol, porém, alegou causas mais transcendentais.
— Meu sonho é ser colunista social – disse.
Quando voltamos, não encontramos nem o Nasci, nem a moça.
Na manhã seguinte, Carol não apareceu.
Nem na outra, nem na outra…
Não veio mais.
Toda vez que alguém perguntava por ela o Nasci ria desbragadamente.
Desconfiamos.
O Velho havia aprontado alguma. As evidências nos faziam crer que ele tinha a ver com o desaparecimento.
— Tenho e não tenho. Se é que vocês me entendem?
Ninguém entendeu. Ele explicou:
— Lembram daquela terça que choveu pra caramba? Pois é. Dei uma carona para a moça que aceitou e diria até que ficou feliz com a minha proposta de levá-la para casa. Só que assim que entramos no carro, ela travou. Ficou dura como a estátua de D. Pedro aí do Monumento da Independência.
O Nasci sempre foi um cavalheiro. Não seria capaz de…
— Não aconteceu nada. Fiquem tranqüilos. Só pegamos um baita congestionamento. Horas parados no trânsito. Quando chegamos em frente à casa dela — e olhe que a Carolzinha mora longe pra caramba, Quarta Parada –, nem desliguei o carro e lhe dei um conselho.
Conselho?
— É. Disse a ela o seguinte: Carol, você queria sair com um cara vivido que tivesse tempo de estrada e não fosse esses garotos bobocas que tentam lhe agarrar todos os dias, não é? Um cara mais velho, não é?
— E o que foi que ela respondeu? – perguntei.
— Ela balançou a cabeça afirmativamente. Mas vi que morria de medo do que pudesse vir a acontecer.
— Sei. E você?
— Eu? Ora disse que até lhe dava alguma razão. Só que não podia ser eu.
— Nasci! Fala a verdade?
— A verdade. Ela queria um cara mais velho. Mas, não tão velho, meus caros. Acho que por isso se assustou.
Segundo o Nasci, foi divertido ver a cara de espanto que ela fez.
Hoje imagino que as nossas expressões apalermadas também o divertiam.
Explico:
Ao que sempre soubemos, o Nasci nunca dirigiu e nem carro tinha.
Mesmo assim, engolimos a história sem qualquer pergunta.
Só depois de algum tempo caiu a ficha.
Ele inventou aquela história só para tomar o nosso tempo.
Ou o final não foi bem aquele.