IV.
Outra do Nasci.
O Bola era um cara legal, mas sempre foi só.
"Avulso", como o Nasci o chamava.
Até aí nada demais. Cada um, cada um.
O único problema é que ele andava ranzinza.
Colocava defeito em todas as mulheres que o pessoal da Redação arranjava.
Era implacável em seus julgamentos.
Batia de baranga, tribufú e por aí ia.
Não escapava uma.
Um dia o Nasci se invocou e deu troco.
— Ô meu querido, você manda bem em todos os conceitos sobre mulher. Só que trabalha com a gente há tanto tempo e nunca soubemos de nenhum romance para os seus lados. Me diz uma coisa. Perdoe a intromissão. Você é discreto mesmo ou está a seco todo esses anos?
Assim na lata, diante de todos, o amigo perdeu o chão.
Não soube o que responder.
Então, o Mestre dos Mestres prosseguiu.
— Então cara, se você gosta da fruta é melhor começar a se interessar pelas moças normais. Ir treinando, sabe? Vai que a Brooke Shields, que você tanto ama, vem ao Brasil e lhe encontra e diz: quero você! E aí? Vai ficar com essa expressão de abadejo em geladeira de supermercado? Já imaginou se ela vier pra cima. Você não vai saber nem por onde começar.
Em três meses, o Bola arranjou uma namorada, noivou e casou.
Radicalizou, eu diria. Mas, não perdeu mais tempo.
V.
Sobre a relatividade do tempo, também vale refletir.
Alguém, desesperado, bate sofregamente na porta do banheiro que está ocupado.
De lá de dentro, ouve a voz:
— Ei, meu, calma. Dois minutos…
Um fala de instantes, o outro imagina a eternidade.