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Deixa chover…

“Chuva, enfim…”

A cidade andava mesmo precisando, os reservatórios com os níveis lá embaixo.

Ouço o alerta que faz a apresentadora do noticiário da TV.

Desconfio que foi minha aluna na Universidade. Não era loira, não andava de salto 15…

Pode ser, pode não ser?

(…)

“Chuva, enfim…”

Também assim começa o e-mail de uma grande amiga, a também jornalista Leila Kiyomura. Mas, ela não faz qualquer previsão sobre o tempo. Quer mesmo me falar sobre a montagem de “uma bela exposição de fotos em homenagem aos 110 anos da Imigração Japonesa, com fotos de Atílio Avancini e Joel La Laina Sene”.

Deve mesmo ser um trabalho belíssimo, sensível.

Tenho certeza que ela colaborou, de algum modo, com esta oportuna montagem.

Pronto.

Tenho dois assuntos que me garantem o post de hoje e o de amanhã.

Falemos hoje sobre a chuva…

(…)

A mãe tinha um medo danado dos dias chuvosos. Até morrer, velhinha, com 91 anos, conviveu com esse pavor.

Quando eu era criança, garoto de tudo, nossa casa ficou alagada por duas vezes – perdemos os móveis, as roupas e outros cacarecos.

Minha irmã assustada correu pra casa da vizinha – e a Dona Yolanda achou que a filha fora carregada pela correnteza.

Um susto e tanto!

Um sufoco!

(…)

Paralelo à rua onde morávamos no Cambuci, havia um córrego chumbrega, sem poesia alguma, que passava por trás do nosso e de outros quintais.  Em dias de chuvas mais densas, os bueiros não davam conta de engolir as águas que se acumulavam no leito da rua de paralelepípedos. Também o rio engrossava o volume e transbordava abastecido com a afluência vinda de outras galerias e córregos.

Por duas vezes, a força de suas águas derrubou os muros das casas que o margeavam e assim os moradores ficaram ‘ilhados’, com o nível da inundação pelos joelhos dos adultos – – e eu, molecote, me colocaram a salvo encima do tampo da pesada mesa de madeira maciça, da sala de costura.

(…)

Isto foi na primeira vez.

Na segunda, estava no Grupo Escolar Oscar Thompson e o meu tio Neno veio me buscar ao fim das aulas da professora Dona Izabel.

No caminho, o Neno me preparou para o que acontecera. Na verdade, eu já intuíra a bagaça pelo tamanho da pancada que despencou do céu.

– A mãe está bem?

Minha pergunta ficou sem resposta.

Minutos depois, reencontrei a família toda na casa dos meus avós, Ignês e Carlito, que nos deram abrigo por uns dias. Até que, depois de uma rigorosa limpeza, pudéssemos voltar para a casa térrea, o número 420, da rua Muniz de Souza.

(…)

Saímos da Muniz, quando eu já tinha uns 14/15 anos, e não me recordo de outros aperreios por causa das chuvas. O riozinho se aquietou na dele. A rua, vez ou outra, ficou alagada. Mas, tudo relativamente sob controle.

Só a mãe a se desesperar ao menor sinal de chuva; mínima, que fosse.

Queria os filhos por perto nessas horas.

Chorava baixinho e rezava, rezava muito para o Sagrado Coração de Jesus até que se fosse a ameaça.

(…)

Vida que segue, enfrentei outras tantas chuvas pelo caminho.

Algumas, inesquecíveis.

Outras, nem tanto.

Dariam boas crônicas, um livro talvez, se eu tivesse o talento de um romancista.

Quem sabe, um dia, eu me arrisque.

Por enquanto, melhor deixar chover…

*Amanhã, como o prometido, volto para um papo sobre a imigração japonesa.

*(foto:arquivo pessoal)
1 Response
  • Júlia Martins
    4, abril, 2020

    Aqui é a Júlia Martins, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

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