Chego ao trabalho – e, surpresa, não estão nem aí comigo.
Os corintianos estão todos sorridentes.
Os tricolores são poucos aqui – e ainda não chegaram.
Ninguém me zoa, ninguém diz nada.
Salvador, o corintiano, exibe um pequeno dístico do Timão na lapela e me procura para discutir questões do dia e também para tomar um café. Está feliz demais com a vitória do seu time para se lembrar que sou palmeirense – e que ontem foi daqueles domingos para se esquecer, apesar de serem cada vez mais frequentes em nossas vidas de torcedores de um time em vias de extinção.
Outro palestrino, o Bona, chega querendo escapar às prováveis gozações. Tenta disfarçar e, antes que lhe perguntem, alega que seu esporte preferido é golfe. Não consegue entender a paixão desenfreada “por esse jogo confuso e rude chamado futebol”.
Ninguém lhe dá atenção.
Quer dizer, fora eu.
Peço que abafe o caso que a vida por aqui está absolutamente nos conformes. Segue normal sua rotina. Assim como o nosso Palestra caminha celeremente para o terceiro rebaixamento em 10 anos.
E isso no ano do centenário do clube…
II.
É inexplicável, disse o técnico Dorival Júnior após a goleada de 6 a 0 diante do Goiás na noite de ontem, no Serra Dourada.
Tão inexplicável quanto o 7 a 1 que o Brasil tomou da Alemanha, em pleno Mundial deste ano. Quanto os 8 a 0 que o Santos tomou do Barcelona naquele fatídico jogo que ‘pagou’ parte do passe do Neymar. Quanto os clubes brasileiros serem eliminados da Libertadores deste ano. Quanto as desclassificações de Atlético Mineiro e do Internacional de Porto Alegre para equipes da África ao disputarem o almejado Mundial de Clubes e sequer chegarem à final diante de um clube europeu.
O que tem a ver esses fatos com a fragorosa derrota (ou deblaquê) palmeirense?
Explico o inexplicável.
Todas essas evidências sugerem que o problema (do Palmeiras e do futebol brasileiro) não está dentro de campo. O núcleo da questão está na organização, no comando, no ‘pensar’ o esporte como há quarenta, cinqüenta anos atrás.
Os clubes, as federações, a CBF (principalmente e sobretudo) não são feudos. Não podem pertencer a uma pessoa só (que se beneficie e lucre) com a tal paixão nacional.
Futebol hoje é um grande negócio, é ciência, é estratégia. É bom senso.
Não cabem mais amadores, principiantes, abnegados, incompetentes, intencionados e que tais (e bota que tais nisso).
A coisa toda está degringolando.
III.
O que acontece com o Palmeiras é emblemático.
O clube é uma das primeiras vítimas da própria inépcia, da incapacidade de seus dirigentes de almejarem algo maior, de pensar no todo e não apenas neles mesmos e em seus conchavos.
Nem sei se adianta trocar os que estão por outros que, em verdade, pensam e agem da mesma forma.
Em breve, teremos umas das mais modernas arenas do mundo (amplamente criticada e combatida por parte dos dirigentes palmeirenses) mas corremos o sério risco de não termos um time à altura para estreá-la…