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Desconfortos

Juro.

Não tenho por hábito de transcrever aqui essas conversas de botequins, quase sempre de cunho machista e, convenhamos, deplorável.

Aliás, como meus afáveis cinco ou seis leitores bem sabem, pauto as mal alinhavadas linhas por preceitos éticos e morais indiscutíveis.

Porém, e sempre existe um porém…

… as risadas eram tantas e tão saborosas entre os amigos que bebericavam naquele boteco na esquina da rua Bom Pastor com a rua Greenfeld, onde o Sacoman torce o rabo, que resolvi perguntar a um deles o motivo de tantas e tamanhas gargalhadas.

Hoje, tanto tempo depois, ainda me divirto com a história que ouvi.

Basicamente era a seguinte:

Um deles levara a esposa a um luxuoso motel. Gastou uma fortuna – e, agora, dizia-se aos amigos “desconsolado”.

O primeiro desconforto sentiu logo à chegada quando entregou os documentos à recepcionista. A moça olhou os sobrenomes iguais.

— Marido e mulher, é? Que falta de originalidade.

Ele fez que não ouviu – e tocou em frente.

Não queria estragar a noitada.

Deu azar.

Bastaram alguns minutos para perceber a animação do quarto ao lado. Música alegre, gritinhos e gemidos. Breves minutos de pausa – e logo recomeçavam as estripulias, mais entusiasmadas ainda.

Segundo desconforto:
Descobriu algo acabrunhado que, nesses casos, a comparação é inevitável.

Mais grave ainda – o que, aliás, acabou com a noite e pôs o casamento em xeque – foi ver a “dona da pensão” toda lépida e bem à vontade a mexer nos comandos da TV, do som, da cama giratória, das luzes. Parecia íntima do lugar…

E era a primeira vez que os dois lá estavam…

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