Lá no mais antigo dos anos, a amiga Leila Kiyomura entrevistou Lourenço Diaféria que, então, visitava a Biblioteca do Ipiranga.
Logo na primeira resposta o renomado jornalista quis deixar a jovem repórter à vontade:
— Sou um garoto do Brás…
Ontem, quando comentei a morte do cronista de São Paulo, Leila se disse triste. Lembrou a entrevista e poeticamente completou:
— Bom garoto… Daqueles que não existem mais.
II.
O Marco Antônio Rodrigues nem sempre ia às aulas.
Eu também não figurava entre os mais assíduos.
O Marcão era, dos meus parceiros de sala, um dos mais bem sucedidos. Não estava formado e já trabalhava na Editoria de Esportes da Folha.
Quando nos encontrávamos nos corredores da ECA/USP, eu lhe pedia carona para voltar ao Ipiranga. Ele namorava uma menina que morava perto de casa, na rua Bom Pasto, e quase sempre ia filar a bóia na casa da sogra.
Dá para entender. O Marcão veio de Araraquara e morava em uma “república” só de marmanjos. A comida não devia ser lá aquelas coisas.
No trajeto da Cidade Universitária até as imediações do Museu do Ipiranga, falávamos quase sempre de futebol. Mas, eu gostava mesmo de ouvi-lo contar sobre o dia-a-dia na Redação. Gostava mais ainda quando o assunto eram os textos de Lourenço Diaféria.
— O cara escreve pra caramba, dizia.
E eu balançava a cabeça, admirado.
— A gente não sabe de onde saem as palavras e as histórias.
E eu balançava a cabeça a imaginar o toc-toc-toc da máquina de escrever do notável cronista.
— Tem dia que ele diz estar sem assunto. Vai até a padoca, toma um café com uns caras que estão por ali e volta com a história pronta…
E eu balançava a cabeça a imaginar um dia escrever como Diaféria.
Diaféria é da nobre linhagem dos imortais Rubem Braga, Drummond, Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto, Vinícius, Fernando Sabino, Plínio Marcos…
III.
Como vocês já devem ter percebido, sempre fui um pouco sonhador…
… E outro tanto sem noção.