Seis da matina…
I.
Eu, hein!
Não estou acostumado a acordar com o tuim-tuim do despertador.
Foi-se o tempo em que o pai me dava um chacoalhão para eu levantar – e me mandar para o grupo escolar.
Velhos tempos, belos dias.
Saudade do pai me cobrando isso e aquilo.
Acordo no assustado. Sinto o coração acelerar. O sonho interrompido não deveria ser dos melhores.
Sento na cama – eu curto um tantinho a lembrança do Velho Aldo.
Hoje tenho um dia cheio, penso.
II.
Afasto a cortina da janela, e constato o céu nublado.
Ameaça de chuva é iminente.
Sexta-feira, tempo feio, chuva. Concluo: o trânsito hoje será um horror.
Em razão de compromissos assumidos, precisarei cortar a cidade várias vezes, em vários pontos.
Tento não lamentar. Como se fosse um video-show da vida real, me atenho aos melhores momentos.
III.
Não tenho dúvida alguma.
Minha maior expectativa está no encontro que terei com a Sônia, da Editora Terceira Margem, e amiga Leila para tratar do lançamento do novo livro “Volteios –Crônicas, lembranças e devaneios”.
Será que ficou pronto?
Será que sai ainda este ano?
É o que vou saber – espero. Se não me atrasar, se a gráfica cumprir os prazos.
Não sei qual dos dois me dá maior medo.
IV.
Ou melhor, sei sim.
É o tal do dia do lançamento, a tal noite de autógrafos.
Isso, sim, só de pensar me dá pânico.
E se, no dia, ninguém aparecer? E se eu esquecer o nome do meu melhor amigo na hora da dedicatória? Essas panes na memória não são raras, não, perguntem aos escritores.
Vai que os blacks bloks resolvam parar a cidade justo naquela noite?
Eu , hein!
V.
Vinte e uma horas…
Resumo da ópera. Deu tudo certo. Ou quase…
Peguei congestionamentos levesm nas minhas idas-e-vindas pela manhã. Sem problemas.
À tarde, soube que o livro fica pronto no dia 31 e, na editora, soube que não haverá um lançamento.Teremos dois, previstos para os dias 12 (na Livraria Vila) e 19 (na Martins Fontes, da av. Paulista) – ambas sujeitas à confirmação.
Ai…
VI.
Lembram o meu temor de que poderia me atrasar?
Pois é… Me atrasei. Cheguei pontualmente as 14h30 na Maestro Cardim, na Bela Vista. Só que o endereço certo era rua Mário Cardim, na Vila Mariana. Minhas amigas foram gentis, e me esperaram pacientemente.
VII.
Ah, por fim, dei sorte. Já estava em casa quando a manifestação do Passe Livre paralisou o Centro da cidade.
Eu, hein!