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Ditinho Joana, as botinas e a jornada

A botinha representa nossa caminha pela vida.

Subi e desci.

Andei depressa e devagar.

Cansei e descansei.

Entristeci e me alegrei.

Assim caminhei.

Hoje estou gasta e cheia de marcas.

Mas com certeza valeu a pena.

II.

Não são minhas essas certeiras palavras.

Quem as transformou em poema/pensamento foi o mestre Ditinho Joana, escultor de mãos firmes e hábeis, que tem seu ateliê encantado no bairro de Quilombola, em São Bento do Sapucaí.

Por obra do destino, ainda no início deste ano, nas minhas incorrigíveis bateções de pernas, fui dar com meus costados naqueles escondidos da Serra da Mantiqueira.

III.

De tanto ir e vir pela Dutra e admirar a majestade das montanhas que entremeiam os estados de São Paulo e Minas Gerais, achei por bem, numa semana sem rumo e prumo, dar uns volteios por aqueles altos e verdes lugares.

Aquela coisa do se perder para se achar, não sei se me entendem?

Aliás, nem sequer me lembro se já contei aqui essa história.

IV.

Se contei, tenho certeza que não lhes falei como deveria e merece o nosso personagem de hoje.

Desde aqueles vividos, fiquei de rabiscar uma crônica só pra este senhor de talento único para transformar em obra de arte a madeira bruta das árvores que tombam aleatoriamente.

Dizem que as árvores morrem de pé.

Dizem… Não é bem assim.

V.

Ditinho tem 74 anos e, desde muito jovem, descobriu em si o dom natural para esculpir cenas comuns que lhe cercam e inspiram.

O cotidiano da vida rural  está ali em tamanhos e formas diversas.

É um verdadeiro cronista, de talhadeira e cinzel em punho.

VI.

Ainda moço deixou a lavoura para se dedicar inteiramente ao ofício. Ganhou fama na região, no Estado, no país, no mundo.

As obras de Ditinho impressionam à primeira vista pela contundência do que retratam. São fortes e logo nos envolvem mesmo que você tenha um coração endurecido pela faina e os dissabores deste tempo desassombrado, como eu.

A cada novo olhar, eu lhe garanto: é possível uma descoberta na minucia e no cuidado da criação.

Tem mais.

Para determinadas peças, Ditinho escreve um pensamento/poema que  serve de legenda e dá arremate e sentido ao que vislumbramos com olhos e coração.

VII.

É o caso dos versos que abrem nosso post de hoje. Dedicados às botinas campesinas que, no fazer do artista, tomam mil e uma formas e tamanhos. Iguais, mas diferentes.

Representam os passos da nossa gente em seu eterno caminhar.

São sua marca registrada, e se espalham mundo afora.

Foi o que me contou naquela tenra tarde em que lá estive.

VIII.

Falou-me com justo orgulho e também em tom de reconhecimento pela graça divina de ser quem é.

Sertanejo de pura cepa, da roça e do roçado. Artesão-artista por vocação. Poeta, cronista cidadão que honra o compromisso de consolidar, em nacos de madeira, o Brasil genuinamente de todos os brasileiros.

 

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