Olho, por uns instantes a mais, a foto da carteira de identidade da mãe antes de entregar o documento ao agente funerário para que dê seguimento aos trâmites de organização do velório.
Andei com a identidade dela todos esses dias, desder a internação, e nunca atentei para o ar austero dessa senhora de origem humilde, pais rigorosos que a prepararam para se mãe e esposa, como mandava a tradição daqueles idos tempos.
II.
A foto não é tão antiga. Data de 1982, a mãe estava com 57 anos e revela um olhar resignado e um certo assombro, entre o susto e o maravilhar-se, diante da lente e, creio eu, das coisas da vida.
A degeneração das retinas dos dois olhos ainda não havia se pronunciado – como aconteceu nos últimos anos, deixando-a quase sem visão. Por isso, arrisco dizer que este assombro, que preservou até os dias finais, tenha sido o traço mais marcante da personalidade da Dona Yolanda que se foi na manhã de sexta, dia 5, aos 90 anos.
Ficamos – eu, meus familiares e todos aqueles que dela se acercaram – um tanto mais desamparados nesse mundão de meu Deus. Continuamos, porém, tocando e seguindo em frente, pois assim ensina a canção, assim é a vida.
III.
Agradeço aos amigos pelo carinho e pela solidariedade nessa hora difícil.
Faremos a missa de sétimo dia, na quinta, às 19 horas, na igreja da Imaculada Conceição, em São Bernardo do Campo.
A mãe era muito religiosa. Acreditava piamente no poder da oração. Rezava muito por aqueles que conhecia – e também para quem mais precisasse.
É nossa vez de rezar por ela…