Foto: Arquivo Pessoal
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Dona Yolanda, minha mãe, completaria 100 anos ontem, dia 12.
Quer dizer: em alguns documentos antigos, a data de nascimento era outra.13 de outubro, como hoje é.
Nunca saberemos.
Para todos os efeitos, a mãe preferia dia 12, data consagrada às crianças e à Mãezinha Aparecida – e assim foi em seus 90 anos de vida.
Desde junho de 2015, a Landinha passou a se chamar Saudade entre filhos, netos e familiares.
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Enfim…
Cabe-me hoje reverenciar a memória da Dona Yolanda onde quer que esteja. Da única forma que sei. Com as orações sinceras e as histórias que gosto de contar.
I.
Sexta pela manhã, acordava e, antes de ir para a velha redação de piso assoalhado, passava no apartamento dos pais para tomar um café reforçado.
Era praxe a cena:
Jornal na mão, o pai lia em voz alta a coluna que eu escrevera naquela semana. A mãe já estava com a visão esmaecida – e, lá do jeito dela, se fazia interessada no assunto.
(Tenho lá minhas dúvidas.)
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Ao final, o Velho Aldo se mostrava orgulhoso do filho jornalista e levava o jornal para compartilhar com os amigos da padaria, do ponto de táxi, da barbearia, fosse onde fosse.
Dona Yolanda era mais lacônica no comentário.
– Não adianta, filho. Quer escrever, escreve. Mas, as pessoas só enxergam e ouvem o que querem. São distraídas e surdas para o que não querem.
Desconfio que a mãe, em sua simplicidade, já previa o fenômeno da “bolha” que hoje vivemos.
II.
Não foram poucas as vezes que ouvi sábias palavras daquela senhorinha miúda, de cabelos branquinhos, branquinhos.
Por vezes, parecia ranhetice de mãe:
– A pessoa só se coça quando mexem no seu bolso.
E outra?
– Agir na hora da raiva e sem pensar não dá camisa a ninguém.
III.
A mãe era uma dona de casa das antigas, dessas em extinção (feliz ou infelizmente, a gosto do freguês ou do politicamente correto) que vivia para o marido e os filhos e ia muito pouco além do chamado núcleo familiar.
As coisas que dizia, portanto, não tinham o tal matiz ideológico, político, econômico. Eram um olhar sobre o cotidiano, a vida mais comezinha, a vida real.
Mas, vejo hoje, muitas das considerações que fazia seriam bem oportunas, aplicadas aos nossos dias nos mais diversos setores da sociedade:
– Dinheiro e poder, dizem, não trazem felicidade. Mas, que ajudam, ajudam, né, filho?
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O que você acha?