Não, meus caros…
… não sei o que lhes dizer sobre os amores e os rumores dos dias atuais.
São complexos demais para um cara da antiga, do Cambuci, onde os as coisas não tinham, digamos assim, tantos salamaleques.
Aliás, o grande Rubem Braga dizia que ele era do tempo em que o telefone era preto e a geladeira era branca.
Ou seja, não se perdia tanto tempo nos arredores, nas miudezas.
O que era era.
O que não era sobrava.
Valia para a vida, valia para os amores.
II.
Por favor, não me entendam mal.
Não estou dizendo que era melhor ou pior.
Era diferente.
Dia desses ousei ligar para um dos meus sobrinhos do celular.
Que não me atendeu.
Comentei com quem estava perto que iria deixar uma mensagem de voz.
Fui gentil e sonoramente vaiado pelos meus pares.
Eles me alertaram que ‘mensagem de voz’ não se deixa mais, nem para a mãe da gente. É deselegante, out. Assim como ter uma conta no Orkut.
III.
Orientaram-me a passar uma mensagem.
Ou, se fosse urgente, um whatsaap.
Em breve teria resposta.
Se ele não retornasse, é por que não tinha interesse em falar comigo.
— AH, sei, legal, respondi.
IV.
Concluí que celular hoje serve para tudo.
Ou melhor, quase tudo.
Não é de bom tom falar ao celular – o mais adequado é teclar.
E como se tecla hoje em dia!!!
V.
Mudando de assunto, mas não tanto.
Acho que vale a pena registrar a história que ouvi do amigo Escova.
Dona Encrenca, a número 1, a esposa oficial do Escova, resolveu cobrar mais empenho do homem para manter o casamento de anos e anos.
Também conhecido como Dom Juan das Quebradas do Mundaréu, o amigo se prontificou a satisfazer todos os desejos da mulher amada. Custasse o que custasse. Contava com suas insuspeitas virtudes de ‘atleta de alcova’ para resolver a questão. Mas, eis que o pedido da Morzinho o surpreendeu.
— Bêêêmmmêêê, Eu quero que você, como prova de amor, enfrente um leão por dia em nome do nosso amor, eterno amor.
VI.
Com seu jeito Vila Carioca de ser, o amigo franziu a testa – e desconversou.
O longo período em que estão juntos deixou claro à Dona Encrenca que ela havia exagerado na dose. Mulher compreensiva que é, refez o pedido, assim na boa.
— Tá bom, Escova, tá bom. Vou mudar o pedido. No lugar do leão, então, você tem de deixar eu ver o seu whatsaap todos os dias.
VII.
Com aquele cinismo cativante que lhe é peculiar, Escova pegou o celular, discou uns números aleatoriamente e, antes que atendessem do outro lado, perguntou ao Morzinho a título de esclarecimento:
— Mô, tô ligando para o circo, diz aí: que tamanho você quer o leão?