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Drummond, Chico e amar fora de hora

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Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade

(…)

Reencontro o poema Quarto em Desordem no vã folhear de uma antologia que , ao acaso, me cai em mãos na estranha e cinza manhã desta terça.

Ia lhes falar da corrida presidencial, os tais em que não confio estão se soltando candidatos. Ia lhes falar do futebol ou mesmo dos amigos que devo encontrar para um almoço e papear sobre o Brasil de ontem e o Brasil de hoje; o de amanhã, aposto, ninguém se atreve. Para onde vai? – e se vai…

Talvez lhes contasse alguma proeza da velha redação do piso assoalhado e dos grandes janelões para a rua Bom Pastor. Ando nostálgico, não acham?

Mas, de nada, de nenhum desses e outros assuntos, eu tinha convicção. Até que, pimba, eis que entro pra fazer hora na livraria, nos baixos do restaurante modernoso, escolho ao acaso um volume, abro e bato o olho no poema.

Confesso que sou tomado por uma invejinha saudável.

Queria escrever assim bonito. Sobre a sinuosidade dos sentimentos, o descontrole e os mistérios de um querer em tempos de amores vãos, amores líquidos e fortuitos…

Mas, isto, sei bem, só os poetas, os cantores, os artistas sabem tão magnificamente retratar.

Ouçam a canção de Chico Buarque sobre tema similar…

*(foto: secretaria de estado de cultura/MG)

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