Estar em Dubai é experiência única.
Esteja onde estiver – nas ruas, nos shoppings, no saguão do hotel, até no deserto –, você olha ao redor e entende a confusão que foi o instante seguinte à determinação divina de que cada povo tivesse o próprio idioma e, assim, os humanos pusessem fim àquela bobagem de construir a tal Torre de Babel.
É uma profusão de estilos e falas. Roupas coloridas, turbantes, burkas, túnicas e afins.
Além da turistada, que por si só já é uma fauna diversa (russos, americanos, espanhóis, alemães, franceses, italianos e o escambau), há um enorme contingente de imigrantes provenientes da Índia, Filipinas, China, Paquistão, Iêmen, Afeganistão e diversos outros países da África e da Ásia.
Esses trabalhadores são atraídos pela possibilidade de emprego na área da construção civil e serviços.
Lá, não levam vida fácil.
E – ouço dizer – muitos vivem em regime bastante precário.
Só que, aos olhos do turista, essa realidade não é visível.
II.
Quanto à contribuição brasileira por ali, não se faz lá muito presente.
Por duas ou três vezes nos perguntaram sobre nossa nacionalidade, ao respondermos que éramos brasileiros, balangaram a cabeça, tipo assim:
“Ah! Então ta…”
Numa das paradas a caminho do deserto, um rapazote, com a camisa da seleção da Eslováquia (sei lá onde arranjou) nos abordou oferecendo um suco natural por modestos 15 dirrãs (12 reais, aproximadamente). Quando soube de onde éramos, se pôs a sorrir e dizer:
-Ulalá, Neymar, Neymar…
Descartei o suco.
III.
Em uma das visitas ao Dubai Museum, fiquei todo empolgado quando descobri uma guia brasileira, arrastando no carioquês as informações que passava ao grupo formado por conterrâneos do Nordeste.
“Tô em casa”, pensei.
“Meus problemas se acabaram”.
E fiz questão de me juntar à turma – e, por alguns momentos, pude vivenciar tantos e tão belos ensinamentos em língua pátria.
Tomei a iniciativa de conversar com a guia por alguns instantes. Morava lá há alguns anos, e se especializara em trabalhar com turismo. Atendera a legiões de brazucas, ao longo desse tempo.
Me interessei.
Perguntei humildemente se podia me incluir em algum de seus grupos naquele ou em outros passeios vindouros.
Ela , sempre bastante simpática, me dispensou na maior.
Motivo alegado: estava compromissada com um evento que se realizaria em Abu Dhab nas próximas semanas, com supervisão direta do sheik Mohammed.
– Um evento internacional, grandíssimo. Sabe como é, é com o Mohammed, né?
IV.
Não. Não sei.
Sei que que somos assim mesmo.
Brasileiro esteja onde estiver, em qualquer lugar do Planeta, não precisa muito, não. Sempre que pode bota uma banca danada pra cima de outro brasileiro em apuros… Ô raça!
*Foto: arquivo pessoal
O que você acha?