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– Aí, tiozão, ainda é chegado numa crush?
-Sempre, garoto! Bom demais.
– Aêeeee.
– Pena que não fabricam mais. Pelo menos no Brasil, nunca mais encontrei.
– Fabricam? Do que o senhor está falando?
– Da Crush, oras…
– Vai suave, tiozão. Quem não está entendendo agora sou eu.
– Crush, rapaz. Acorda! Em que planeta você vive? Aquele refrigerante, tipo laranjada, que tinha uma garrafa escura, toda trabalhada. Quando eu era criança, adorava. Gostava também de Cerejinha, Seven Up, Grapette… Tinha até um comercial chiclé, como dizem vocês: “Quem bebe Grapette, repete”…
– Vacilo, tiozão, tu tá misturando estação. Não é dessa vovó da Fanta e da Sukita que estou falando, não.
– Ué. Do que é, então? Crush é Crush.
– De boa, sai do túnel do tempo, tiozão. Crush hoje em dia é uma paixonite que a gente tem assim à distância. Que nos faz sonhar, que a gente quer ver, que nos tira o chão… Essas coisas todas, mas não rola nada. É só essa visão mesmo…
– Não rola. Não rola, por quê?
-Não rola e pronto.
– E se rolar?
– Se rolar não é mais crush, entendeu?
– Médio.
– É peguete, ficante, rolo, enrosco, essas coisas. Mas, não é crush, entendeu?
– Quase.
– Vou te dar um por exemplo: Meu pai, coroa como você, atá mais novo, acho, me disse que a crush dele na juventude foi a Sônia Braga.
– Verdade? Que malandro! Dele e da torcida do Flamengo.
– Verdade. Tão verdade que minha mãe deu embora o aparelho de videocassete e um sumiço legal naqueles VHS que ele guardava, com os filmes A Dama do Lotação, Gabriela e Eu Te Amo. O pai pirava quando assistia – e assistia toda bendita tarde de sábado.
– Meu garoto, que tristeza. Me perdoe, mas sua mãe não tem sensibilidade. Que desserviço à cultura… O máximo que o seu pai podia fazer era olhar com os olhos e lamber com a testa.
– É, não entendi direito, mas pode ser. O pai ficou pê da vida. Disse que ela votou no Bolsonaro, mas não é por isso que tinha que se meter a censora e tal e coisa.
– Tem razão. E o que ela respondeu?
– Disse que acima de tudo Deus e a família.
– Boiei.
– Ah, ela falou. Melhor prevenir: os 10 mandamentos nunca impediram nada. Mas deram cada ideiazinha… (*)
(*) a expressão é de Millôr Fernandes
O que você acha?