Foto: Arquivo Pessoal
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“Tinha 55 anos quando comecei com o Blog.
O mundo era outro.
Não sei se melhor ou pior.
Sei que era diferente.
Menos polarizado, talvez.
Havia o certo e o errado.
E a valorização do diálogo.
Escrever sempre foi o desafio, minha pedra filosofal”.
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Retomo no post de hoje a promessa feita de seguir nosso papo a partir de um trecho do texto que ontem publiquei.
A temática é a mesma: os 20 anos do nosso Site/Blog.
E o desafio/maluquice de escrever dia sim e outro também.
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O que mudou nesse tempo?
Talvez seja essa a inquietante questão.
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A princípio e por princípio, permitam-me fazer a inefável constatação.
Nesse tempo, a passos miúdos, mas decisivos, nós, jornalistas, perdemos clamorosamente o protagonismo de fazer a necessária e imprescindível mediação das demandas sociais.
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Tento explicar.
As primeiras páginas dos jornais, as capas das revistas de informação, a escalada dos telejornais e congêneres são balizadores do que supostamente o cidadão precisa saber para entender a sociedade em que vive e atua e esse mundão de meu Deus.
Cabe aos jornalistas captar, organizar, classificar e hierarquizar os fatos do dia (ou da semana, no caso das revistas) para que o leitor/espectador possa supostamente bem se informar.
Para tanto, um batalhão de profissionais de Imprensa trabalha diuturnamente.
A essência de tudo era – e aqui o verbo infelizmente vai para o passado – o repórter na árdua tarefa de buscar a noticia fosse onde fosse.
Valia (vale?) também a sagacidade do editor, responsável pelo produto final,
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Perdemos essa primazia.
E explico.
A explosão das chamadas redes sociais pôs um fim impiedoso a esse privilégio.
As primeiras páginas continuam por aí.
Mas, não são determinantes e lacram.
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Basta ter uma engenhoca em mãos e hoje todos somos produtores de conteúdos.
Ademais, no tanger dos nossos interesses, nós mesmos somos os mentores da home-page da nossa vida nas indefectíveis telas dos próprios celulares e/ou computadores.
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Vale a reflexão.
Reiteramos, a bel prazer e descontroladamente, o que o filósofo e pesquisador da área da Comunicação, Marshall McLuhan, profetizou como fenômenos sociais e filosóficos gerados pela informatização e pelas telecomunicações.
Disse o homem no começo dos anos 60:
“O meio é a mensagem”.
Pasmem – e vale o espanto -, ainda não se pensava em inventar essa tal de internet.
Durma-se com um barulho desses!
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Antes que me perguntem, faço a provocação:
Não sei se a home de um grande portal atenda a critérios de natureza eminentemente jornalística.
Vale mais o cliques do que a relevância dos fatos.
Muitas vezes é assim.
O fato mais relevante do dia briga com o paredão do BBB pelo espaço nobre.
Ou seja…
Vale mais o ‘interesse do público’ do que o ‘interesse público’.
Além do que, o peso dos colunistas – os mais diversos, das mais diversas procedências, sobre as mais diversas temáticas e blablablá – rivaliza e se sobrepõe à grande reportagem.
Em tese, realça-se a interpretação do acontecido do que a pormenorizada descrição do fato em si.
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Essa temática é complexa e – para o bem e para o mal – não se chega a conclusão alguma. Por enquanto.
Há os que odeiam.
Há os que amam.
Vale a discussão propositiva.
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No meu caso, minha experiência blogueira diz que…
Uma coisa que não sentia e hoje sinto é a sensação de que hoje escrevemos para os que pensam como nós.
Não é autocensura, não.
Não buscamos isso.
Naturalmente é assim.
Sabem a tal história ‘da bolha’?
Pois é…
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Complicado, né?
Vivemos no fio da navalha.
Antes, talvez ingênua e tolamente, imaginava que o que escrevia poderia, honesta e sinceramente, contribuir para esclarecer o amável e estimado leitor sobre tal e qual fato, mesmo se o amável e estimado leitor não atinasse com a realidade que eu lhe trazia.
Ele refletiria sobre o assunto.
Mas, não colocaria em xeque a integridade do autor.
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Era uma ilusão quixotesca, ok?
De certa forma, sim.
Não sei se ajuda, mas sempre me orientei pelos tais pilares jornalísticos que ouvi numa entrevista que fiz com o notável jornalista Mino Carta, nos idos dos anos 70.
Resumidamente:
1 – o respeito à verdade factual;
2 – o respeito à função crítica e fiscalizadora;
3 – o respeito ao bem comum, ao cidadão e aos valores democráticos.
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Mesmo aqui no Blog quando cometo a ousadia de algumas crônicas que enveredam para a ficção, creiam meus cinco ou seis leitores (se é que ainda andam por aqui) que o que me rege e guia é o desejo/ofício de um mundo melhor. A partir da construção de um Brasil contemporâneo e socialmente justo para todos os brasileiros, inclusive aqueles que não pensam exatamente como eu.
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Amanhã tem mais…
Por enquanto, fiquem com o alquimista Ben Jor e o Trio Mocotó num vídeo precioso, gravado em 1971.
Salve Jorge!!!
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O que você acha?