Desde novembro ele
não dava as caras por aqui.
Quem?
Ora quem!
O amigo Nicola.
Lembram dele?
É aquele mesmo — taxista
e psicólogo, com especialização
e o escambau acadêmicos.
O homem já apareceu neste blog
em duas ou três sessões.
Ou melhor, em duas ou três crônicas.
II.
É. Isso. Ele mesmo.
Não, não é sinistro.
Quem lhe disse tamanho absurdo?
Diria que é criativo.
Usa o consultório – que não
estou autorizado a dizer onde é –
e o táxi para recolher material
para a tese de doutorado,
cujo tema é magnífico:
Mulheres Que Amam Demais.
Não sei se tal metodologia é adequada.
Mas, algumas histórias que ouvi dele
e contei aqui resultaram em uma
belíssima audiência e comentários,
diria, lisonjeiros a este modesto escriba.
Claro que Nicola, ético e ponderado
do jeito que é, preservou as fontes. Mas,
as histórias são fenomenais, concordam?
III.
Veja o depoimento de hoje.
Desta feita, colhido numa corrida
entre o Brás e a avenida Rebouças.
Ao que tudo indica, a moça
precisava desabafar.
Ela pediu a Deus um príncipe
encantado. Que veio e a fez sofrer.
Então, rezou de novo. Pediu a sorte
de um amor tranqüilo. Mas, ao que
consta, enfrentou mesmo o Sr. Tédio.
Aí, faltou pouco para desesperar-se.
Solução: recorreu aos conselhos
do amigo Nicola. Como não havia
hora vaga no consultório. Esperou
por ele no Largo da Misericórdia.
Ontem, assim que o Astra sedan
parou no ponto, a moça saltou para
o banco de trás e começou a falar:
IV.
“Quando dividimos nossos segredos
eles passam a doer menos.
Por isso, estou aqui para conversar.
Sabe, cansei de brigar com Deus.
Achei melhor fazer as pazes porque
meu coração parecia que ía parar.
Mas não pedi desculpas…
É que eu quero um atendimento
preferencial. Acho que eu mereço.
Não é porque algo não deu certo,
que Ele vai me mandar outro
totalmente oposto.
Será que eu vou ter que explicar
que os extremos são ruins.
Que entre o céu e o inferno
tem um purgatório e, no purgatório,
tem que ter algo que preste.
Será?
Sei lá.
Ora…
Ele é senhor do tempo, tem todo o poder.
Ainda se eu ficasse de papo pro ar.
Mas ralo pra cachorro. Trabalho muito.
Me divirto pouco. Só como doce porque
o salgado faz mal para a pressão.
Então, mereço ser feliz.
O que o senhor acha, doutor?
Estou errada?”
V.
Como sempre nessas horas,
Nicola é prático e objetivo.
"Em que altura da Rebouças
a madame quer ficar?"