Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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O primeiro político-candidato que entrevistei, adivinhem quem foi?
Orestes Quércia.
Concorria ao Senado pelo MDB e foi visitar o diretório do partido no Ipiranga.
Quando?
Idos de 1974.
E lá se vão quase 50 anos…
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Imaginem um jovem cabeludo repórter de 23 anos diante do homem que, naquela altura da vida pública nacional, ‘ousava desafiar os ditadores de plantão’…
Era eu, amigos e amigas, devidamente pautado pelo editor, o indomável AC , e pelo chefe de reportagem, o ruidoso Escova.
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Na boa, não lembro o que escrevi.
Garanto que anotei tudo que o político disse – e, catando milho na portentosa Olivetti, reproduzi palavra por palavra numa entrevista de perguntas e respostas, conhecida no jargão das redações como ‘ping-pong’.
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Deixei de fora apenas um questionamento feito pelo então presidente do diretório do MDB do Ipiranga, o Oswaldo Rivero:
– Quércia, fale das suas largas expectativas de vitória. Quais são?
O ex-prefeito de Campinas e candidato foi objetivo, e enfático:
“São as mesmas que tenho para a derrota”.
E explicou:
“Não dá para confiar nos resultados das urnas antes que os votos sejam contados, apurados e computados”.
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E lá se vão quase 50 anos dessa historieta…
E a turma parece que não aprendeu.
As pesquisas de intenção de votos flagram o momento. Têm lá sua metodologia, sua ciência. Propõem análises e recortes importantes para as candidaturas e eventualmente para um ou outro eleitor. Jornalisticamente geram notícias, causam barulho e, definitivamente, são de interesse público.
Mas, há alguns desvãos no grupos e subgrupos de eleitores que o pesquisador não consegue captar.
O eleitor, convenhamos, é uma grande esfinge. Só decifrada depois de apurado o último voto nos grotões deste imenso Brasil.
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Se me permitem, conto-lhes outro episódio.
Este também conhecido como ‘o episódio das nádegas indevidas’.
O pleito de 1985 para Prefeitura de São Paulo era tido como favas contadas pela turma do PMDB, pela mídia e pela opinião pública.
Estávamos no limiar do país redemocratizado e Fernando Henrique Cardoso era a aposta no futuro da maior cidade brasileira contra o jeitão anacrônico e antiquado de Jânio e os seus correligionários.
Vitória mais do que certa, todos diziam.
Tanto que, dias antes das eleições, FHC não se acanhou de sentar na cadeira oficial de prefeito para fotos que ilustrariam a capa da revista Veja a ser publicada no dia seguinte à votação.
O fato de Mário Covas ser o prefeito paulistano favoreceu o acesso ao Gabinete, o resto ficou por conta dos quesitos vaidade e certeza da vitória.
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Todos sabemos qual foi o resultado do pleito.
Deu Jânio que, de resto, ficou sabendo do episódio – e não perdoou.
No primeiro dia da sua gestão, chamou à Imprensa para fotográfa-lo limpando a cadeira.
Em seguida justificou cunhando a frase que se fez famosa:
“Desinfeto porque nádegas indevidas aqui se sentaram”.
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O que você acha?