O grande Juca Kfouri comparou, tanto no Blog quanto no Linha de Passe, da ESPN/Brasil, o jogo entre Flamengo e Botafogo como uma “várzea”, de tão ruim que o jogo foi. Zero a zero. “Oxo”, como diria o saudoso Walter Abrahão, na velha TV Tupi.
O horário (onze da manhã), o péssimo estado do gramado do Estádio de Volta Redonda, a nhaca dos dois times – enfim, tudo contribuiu para a colocação do jornalista.
Não costumo discordar do Juca, mesmo quando, nas entrelinhas, ele dá uma fustigada no meu Palmeiras, que anda pelas tabelas no Brasileirão e assim-assim na Libertadores e na Copa do Brasil.
Não seria agora que iria contradizer o notável jornalista.
Mas, quero fazer um adendo à sua fala.
Tenho lembranças magníficas do futebol de várzea no meu tempo de garoto e mesmo depois de já grandinho.
Por essas memórias, penso que a “várzea” não merece o tom pejorativo da comparação. Foi o grande celeiro dos nossos craques no melhor momento do futebol brasileiro – as décadas de 50 e 60 – quando, cada time, tinha ao menos meia dúzia de craques/craques entre os onze titulares.
II.
Foi na várzea do Glicério, por exemplo, que vi Jair da Rosa Pinto, após encerrar a carreira como jogador profissional, comandar com maestria o time que formou com outros veteranos da bola, o Can Can. Em um jogo contra o Estrela do IAPI, fez três gols de falta bem diante dos olhos maravilhados da garotada – eu, entre os tais – que corria para atrás da trave assim que o juiz marcava a falta a favor do time de Jair.
O uniforme do Can-Can era todo preto. Uma ousadia para época.
III.
Difícil não me emocionar toda vez que lembro o Santos Futebol Clube do Cambuci, onde jogava o meu cunhado e ídolo, Waltinho, na lateral esquerda. Era um time fantástico. Repleto de craques. O meio de campo era Vadico e Afonsinho. O ataque, demolidor: Careca, Queiroz, Espanhol e Garrinchinha.
Houve jogos históricos, como diante da afamada Atlética Alumínio, de Sorocaba. O jogo empatou em 1 a 1. Mas, eram os clássicos contra o República, também do Cambuci e do ágil goleiro Manolo, que lotava as arquibancadas do Distrital da Aclimação nas ensolaradas manhãs de domingo.
IV.
Tenho outras tantas recordações desses confrontos.
Ver o Sereno da Bela Vista em campo, com os cantores Agostinho do Santos de zagueiro central e Jair Rodrigues da lateral esquerdo; o Búfalo da Vila Prudente com sua portentosa camisa grená; o Sinclair do Ipiranga, o Huracan e o Mocidade do Glicério, o Invictus, onde o meu pai foi diretor e eu quase fui mascote…
Tantas e tamanhas…
Ô Juca, a várzea (não sei se a de hoje, mas a do meu tempo) só merece elogios. Nos campos de terra batida, fosse onde fosse, sobrava encantamento que tanto falta faz aos futebol atual.
** Foto Jô Rabelo