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Elomar e a menina

Reencontro Elomar depois de anos e anos sem ouvir a voz do trovador das caatingas.

Por onde andou todo esse tempo; quase 30 anos, sem bem me lembro.

Agora, ouço as belas cantigas enquanto dirijo pelas ruas da cidade, espontaneamente vazias pelo êxodo do feriadão.

Entendo, então, que talvez fosse melhor perguntar a mim mesmo: por onde andei?

Desde que me desfiz da coleção de vinis – e lá se vão anos – não ouvi mais a poesia atemporal e a incrível sinuosidade de suas melodias.

“Certa veiz um certo prinspe
Paxonô-se prua donzela
Intiada de um rei
Lá do rêno de Castela”

Por vezes, nos deixamos estar pelas circunstâncias e preciosidades tão belas e raras e deixamos que preciosidades tão belas e raras, como a obra do habitante da Casa dos Carneiros, se afastem de nós, por tudo e por nada.

II.

Reencontro Elomar justamente pelas mãos da menina que sequer era nascida em 1981 quando o cantador gravou este Cartas Caatingueiras, com ela me presenteia.

Percebi logo que os olhos azuis da moça estavam assim inquietos quando a chamaram ao palco para receber o diploma pela conclusão do curso de jornalismo. Acompanhei atento o seu caminhar até a mesa que presidia a colação de grau. Menos pelo contraste entre o all star verde que calçava com a sisudez da beca que a cerimônia impunha, e mais pela alegria de vê-la se achegar. Afinal foram quatro anos de convivência em sala de aula – e, reconheça-se, ela não era das assíduas às aulas.

Vi quando, ao meu lado, o paraninfo lhe entregou o canudo e, no instante seguinte, era eu quem deveria lhe presentear uma caneta metalizada, lembrança da Universidade. Antes, porém, ela tirou de uma das enormes mangas da túnica o CD do Elomar – e me entregou sem dizer palavra.

Na contracapa, a dedicatória, escrita com um desses canetões hidrográficos:

“Obrigado por tudo!
Espero que goste…”

III.

Olhem que perdi a conta das vezes que participei dessas solenidades. Uma ou duas vezes como paraninfo. Outras, como professor homenageado e dezenas como coordenador de curso.

Posso dizer que fiquei tocado – e meus pares da mesa, desconfio, morreram de inveja.

Adorei a surpresa.

Por tudo e por nada, entendo que a vida também – e felizmente – é assim.

Feita de preciosidades tão belas e tão raras, como as canções de Elomar e a menina que se foi e hoje traz “a mão nevada e fria da saudade”.

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