Verdade verdadeira.
Essas coisas acontecem
nos melhores jornais,
com os melhores profissionais,
por que não ocorreriam aqui,
em nosso humilde blog?
Somos obrigados hoje
a dar o ‘erramos’ do erramos
que demos no domingo.
II.
Assim…
Diferentemente do ‘diferentemente’
que publicamos e republicamos,
não houve borboleta amarela
nenhuma a pousar lânguida e faceira
em meu notebook, como escrevi
no sábado. Menos ainda, houve uma
borboleta de asas rajadas em amarelo
e preto, como retifiquei no domingo.
Segundo parecer dos mais
renomados borboletólogos,
que se aprazem na leitura
deste ecológico blog,
essas duas espécies não
ousariam tal proximidade
de uma máquina de vida inóspita,
coloração escura e
insensível a qualquer gesto
de carinho e simpatia; sensível,
apenas e tão somente,
a mínima queda de sinal…
III.
Aí, sim, vapit…
Lá se vai todo o trabalho…
Foi assim quando terminava
a dissertação de mestrado
em tempos idos. É assim agora
toda vez que me ponho a teclar
quando estou fora de São Paulo
e preciso ‘fechar’ o texto do blog…
IV.
Quanto ao parecer dos cientistas
borboletíneos, nada acrescentarei,
nem causarei polêmicas desgastantes
sobre o vôo e a aterrissagem da dita-cuja.
Só um pitaco…
Poderia se quisesse tomar
o testemunho do irriquieto
beija-flor que, presumo, viu a cena…
Mas, reconheço, que seria difícil
tirá-lo das proximidades do mamoeiro,
onde se diverte a bater asas e imaginar
que aquele canteiro é todo seu…
Poderia falar com o Seo João
que cuida das plantas e da piscina.
Mas, ele tem coisa mais útil e necessária
a fazer e certamente já viu pássaros
e insetos a equilibrarem-se
em lugares nunca antes registrados
por qualquer enciclopédia…
V.
Só um detalhe que não informei
aos sábios das esvoaçantes. Mas,
vou lhes confessar agora, pois
parece relevante para
desvendar todo o mistério…
Em priscos tempos, numa de minhas
andanças e comilanças, acabei
por derrubar Fanta Uva enquanto
escrevia um texto sobre sei-lá-o-quê,
sei-lá-onde. Sobrou uma rebarba
do acidente para o notebook…
Mas, foi por uma calça justa.
Ou melhor por uma causa justa…
Alguém me disse que também
adorava Fanta Uva – e eu, surpreso,
tolamente imaginei que estava
tudo resolvido em minha vida
a partir desta transcendental afinidade…
Convenhamos…
Não é todo dia que encontramos
alguém disposto a repartir
a Fanta Uva com a gente…
VI.
O que se seguiu foi uma
legítima cena de ‘pastelão’…
Ao tentar levantar para lhe oferecer
uma latinha de boa safra que trazia
de reserva para ocasiões especiais –
e, óbvio, aquela era uma ocasião
especial – me enrosquei nos
fios e deu-se o estrago…
Não foi nada grave…
O notebook sobreviveu, mas
ficou com algumas manchas,
quase imperceptíveis
que o tempo não apagou.
(Eu também trago cá
as minhas marcas deste
inovidável episódio…)
VII.
Hoje, me ocorre que talvez
venha daí o interesse da bichinha
em dar uma parada no computador.
Talvez descobriu resquícios
de algum néctar ali…
Enfim…
VIII.
Como não gosto de deixar
meus cinco leitores na dúvida,
tomei coragem e liguei para
o Seo João, que viu a esvoaçante
dar rodopios e se achegar.
O simpático jardineiro e faz-tudo
disse, com todas as letras,
que era delírio meu:
— Borboleta amarela, naquela
caixinha preta que o senhor batucava?
Nem amarela, nem amarela e preta.
O senhor viu torto. E contraluz…
Vou me internar, pensei.
É mais grave do que imagino.
Será que ando tomando Fanta Uva demais?
— Era, sim, amarela e azul-marinho
a borboleta e anda sempre por aqui
a abusada. De uns dias para cá,
dependendo de como se movimenta,
tem até um brilho arrocheado nas asas…
Ainda bem que o bom homem
corrigiu a tempo. Mas, assaltou-me
outra dúvida. Será que esse tom
arrocheado é efeito do refrigerante
derramado ou ela sempre foi assim?
IX.
Bom, deixa pra lá…
Quanto à moça da causa
justa, direi apenas que a perdi de vista.
Porém, deixou o alerta: não se deve confiar
em quem gosta do tal refrigerante,
mas não está informado que agora
há uma versão light, bem apropriada
a corações frágeis, notebooks
e borboletas amarelas.
Porque insisto no que escrevi
no primeiro texto: a cor que predomina
na voadora é mesmo a amarela
– e tenho dito e escrito!