Encontro o amigo Escova todo sorridente a perambular pelas ruas e becos do Sacomã.
Percebo a alegria do mancebo, e quero logo saber o motivo.
– Vou voltar a ativa, meu caro.
Nas sinuosas curvas dos sessenta, admirei a coragem do velho repórter, companheiro de tantos jornais e jornadas.
– Vai voltar à Redação?
Faço a pergunta um tanto desconfiado, pois os tempos são outros. E, se me permitem a observação, pouco ou quase nada têm a ver com o período em que nós corríamos atrás da notícia.
– Nada disso, me responde o amigo, com ares de quem está “por cima da carne seca”, como se dizia naqueles idos.
Ele explica:
– Como diz a rapaziada de hoje, vou enveredar para a área do jornalismo investigativo, em voo solo.
Escova sempre foi bom no lidar com as palavras. Texto fluente, objetivo e, muitas vezes, com uma pitada de ironia. Era gostoso ler o que ele escrevia, mesmo em reportagens mais longas.
Dei os parabéns. Mas, me permiti, questioná-lo mais uma vez:
– O que exatamente você vai fazer?
Ele nem pestanejou para responder:
– Vou ser biógrafo.
– Justo agora, ponderei. – Você não viu a confusão que está ocorrendo. A polêmica entre artistas e outros segmentos da sociedade pelo direito de publicação de biografias não-autorizadas. Não faz sentido por a mão nesse vespeiro, amigo.
Com tom professoral, ele fez questão de esclarecer:
– É por isso mesmo, meu caro. Achei a fórmula.
E sem mais delonga, sacou um armafanhado pedaço de papel do bolso do paletó, e passou a narrar o que seria o prímeiro capítulo da inédita obra:
“Caetaninho é lindo.
Caetaninho é lindo.
Caetaninho é lindo.”
E arrematou, todo orgulhoso:
– Gostou? É só o primeiro capítulo. Mas, os demais vão na mesma toada.