Hoje me dei folga – afinal, é Dia do Trabalho.
A partir de amanhã, estarei de volta à abençoada lida que irá se resumir nos próximos meses ao dia-a-dia da coordenação de jornalismo, reuniões, aulas, orientações de trabalhos de conclusão de curso e algumas bancas no final do semestre. Claro, outros compromissos sempre haverá. Mas prioritariamente (além de escrever, escrever, escrever) é por aí que irei com a Santa Graça Divina.
Aproveitei o sol da manhã desta terça para andar pelas ruas do bairro. Uma parada para um cafezinho no balcão de uma simpática lanchonete que acabo de descobrir e outra para contemplar a igreja da Imaculada Conceição que é azul e está vazia.
O almoço na casa da mãe é inevitável assim como a sesta no velho sofá e a conversa sobre os velhos tempos do Cambuci. Fim de tarde me plantei diante do computador e, como soldado na porta do quartel quer serviço, veja no que deu: um texto com base nos escritos alheios.
Quer bisbilhotar? Fique à vontade, pois:
I.
Abro o email do professor Heron Vargas e é para eu confirmar presença na quinta à noite como palestrante do curso de pós que ele coordena em Jornalismo Cultural. Presença confirmada. Confirmadíssima. De 1975 a 1991 ou 92, não lembro, andei de disco em disco, de show em show, de entrevista em entrevista atrás dos principais nomes da MPB. Desconfio que dos grandes só o Chico Buarque me escapou.
O que o Heron não pode imaginar é o tamanho da saudade que me bateu no preciso instante em que o li. Foram anos nessa rotina. Quase recupero meu currículo e mando para uma publicação qualquer. Ganhava pouco, assistia aos shows de graça, recebia uma penca de elepês para comentar e me sentia um quase artista. Era um tanto ingênuo. Pensava que podíamos mudar o mundo com canções e o toc-toc-toc da máquina de escrever.
II.
A Flávia Rodrigues, que trabalhou comigo há anos, recomenda a leitura do texto de um colunista que era da Folha de S.Paulo e agora está no Estadão. Acho que é um texto antigo sobre as mulheres. Ela ressalta que o tal fulano é o máximo. Indispensável.
Leio o primeiro parágrafo, me arrasto no segundo, resisto ao terceiro e não emplaco o quarto. Desisto. Não há críticas nessas observações. Só me fazem pensar o quanto é difícil escrever e mais ainda como os nossos textos chegam às pessoas. Que nos acham lindos, babacas, reflexivos, humanistas, românticos, objetivos, importantes, vagos e vagais.
Gosto de textos em que sinto um coração pulsando, em que encontre vida e, cheguei agora à conclusão, algo que fale de perto à minha verdade – que me apresso em dizer não sei qual é.
Talvez por isso as bobagens adocicadas dos tribalistas me encantam, especialmente quando dizem "o meu melhor amigo é o meu amor". Não citam Confúcio, Aristóteles ou um desses alemães que têm o monopólio do pensar e da comunicação. Mas taí algo que há anos me seduz, e cada vez mais me parece impossível: juntar amor e amizade.
Peço à minha remetente que não se zangue.
Foi legal o toque.
III.
Sou emoção pura ao encontrar um antigo email do amigo Geraldo Peixoto. Há tempos não o vejo. Ele agradece a citação de seu nome numa crônica mais antiga ainda, quando narrei a história de um cachorro que provocou um grande quebra-quebra em plena rua 7 de abril nos idos dos efervescentes anos 60.
Geraldo foi uma das testemunhas do embate entre os prós e os contras o tal cachorro se escafedeu em meio ao sururu. Diz o amigo (porque quem digita é sua mui amada Dulce, “a mulher da minha vida”):
— Enfim, meu queridíssimo amigo, apesar do tempo e da distância, continuo tendo uma fé e uma crença inabalável nas pessoas, homens e mulheres que cruzaram meu caminho. Pessoas da maior importância, que me fizeram crescer e com quem aprendi muito. E você, caríssimo, sem dúvida é uma delas. E, o cachorro, sem dúvida, é o melhor amigo do homem (apesar de Vinicius de Moraes, um dia, ter dito que não, que o melhor amigo do homem é o uísque que, vem a ser, o cachorro engarrafado). Beijos, saudades e, uma hora a gente se vê por aí.
IV.
Um remetente que não identifico manda um convite para uma festa e um texto do profeta Isaías que diz:
“Quando você estiver em dúvida sobre que direção tomar, submeta o seu poder de julgar inteiramente ao Espírito de Deus e peça-Lhee para fechar todas as portas, menos a certa. Enquanto isso, continue a agir como sempre, e considere a ausência de orientação, como sendo uma indicação de Deus de que você está na trilha certa”.
Taí, gostei. Não sei quem é. Mas, por vias das dúvidas, fico com a reflexão e desisto da festa.
V.
A Menina de Cabelo Vermelho diz que partiu para outra e encontrou um novo amor. Aleluia. Coisa rara. Comemoro. Outra moça me diz que está em crise. Respondo que talvez seja o desalinhamento dos planetas porque também me sinto assim. É dar tempo ao tempo. Por enquanto, fiquemos, ambos os dois, com os versos sutís de Luiz Melodia:
“Eu morro de amores. Eu preciso aprender”.
VI.
Analy, não esqueci. Aniversário atrapalhado, né. Parabéns!