Foto: Arquivo Pessoal
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Conto-lhes hoje o que me levou a escrever a crônica/homenagem de ontem:
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Meus amáveis cinco ou seis leitores já perceberam que sempre recorro ao passado quando tento entender e explicar a mim mesmo e a vocês o baticum dos dias atuais.
Me parece que éramos mais verdadeiros, mais autênticos.
Será?
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Ah, sim… O motivo.
Ei-lo:
Dia desses, ainda no pós-eleições, alguém que mal conheço perguntou minha opinião sobre os tais ‘‘pobres de direita’’.
Não desgostei do questionamento, o diálogo faz parte e é salutar, porém…
E sempre existe um ou vários poréns e entretantos, vislumbrei um (in)certo tom de provocação, pois nunca escondi o lado que estou – e sempre estive.
Sobre a expressão dita e reedita muitas vezes nos dias atuais, disse-lhe:
“Soa-me como uma demarcação de território, entre os bonzões e os zuretas”.
Não gosto.
Acho discriminatória, carregada de tolos preconceitos.
Cada um é cada um – e ponto e basta!
(Também não aprecio imprecações do tipo “esquerda festiva”, “sociólogo de botequim” e que tais.)
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Foi o que disse ao meu interlocutor.
Morreu o assunto aí.
Talvez não fosse essa a resposta esperada.
Talvez tenha sido o meu tom de voz, naturalmente áspero, quando me coloco com mais veemência.
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De resto, fiquei com a impressão de que, naquele momento, tenha involuntariamente assumido ‘‘o inefável ar de quem sabe das coisas, mas não tem como, nem por onde agir’’, igual fazia o vô Carlito, naqueles tidos e havidos tempos.
Não sou de loas e proas. Sou um homem comum do bairro operário do Cambuci. E, cá pra nós, gostei de lembrar o jeitão do vô Carlito.
Faltou-me, na hora, o chapéu para compor a cena, com precisão e requinte.
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Divirto-me e cultuo minhas lembranças.
Detalhe: não contei ao moço que me fez a pergunta.
Em nada ele lembrava o Sr. Irineu – e certamente ficaria horrorizado se eu lhe dissesse:
“Espera-se uma revolução”.
Aguarde, é inevitável!
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TRILHA SONORA –
João Nogueira, Caymmi e as voltas que o mundo dá…
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O que você acha?