Pronunciamento feito pelo formando Arthur Chioramital
na colação de grau da turma de jornalismo matutino
da Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas da
Universidade Metodista de São Paulo, na sexta, dia 19.
“Nem sei por onde começar.
Sempre há tanto a dizer e tão pouco
tempo, tão pouco jeito, tão pouca coragem.
São tantos fatos e tantas fotos,
tantas coisas para lembrar e tantas
coisas a esquecer que fica sempre
a dúvida se estamos dando a cada
uma a importância que lhe é devida.
Eu me lembro quando cheguei
aqui, quatro anos atrás.
Me lembro quando pisamos pela primeira
vez neste chão. Tudo parecia maior,
menos nítido, mais fantástico.
Me lembro do medo mal disfarçado
nos olhos das pessoas, da excitação
que fazia tremer a voz e disparar sorrisos.
Me lembro da noite de insônia
que veio antes de tudo isso.
Me lembro, sobretudo, da paixão.
Me lembro da vontade insana
de mudar o mundo, da alegria sem
medida e da sede por fazer dar certo.
Me lembro das idéias malucas sobre
o que era ser jornalista, dos planos de
carreira meteóricos e da falsa
sensação de maturidade.
Me lembro, e como se esquecer,
do espanto diante dos trabalhos do Faro
(Ou seria da própria figura do Faro?)
e do orgulho por ter que ler a Era dos Extremos.
(Afinal, alguém aí já descobriu o que é uma resenha)
Me lembro, embora preferisse esquecer,
das matérias do ID, dos trabalhos
em grupo e das aulas da Verônica
(E vocês, “estan” comigo???).
Me lembro até de só estar aqui
por não ter passado na Cásper.
Vou levar essas lembranças comigo
para onde eu for.
Mas, mais do que lembranças, eu levarei
lições, eu levarei amigos,
eu levarei um amor para a vida toda.
Mais do que lembranças, fotos e festas,
eu levarei a mão no ombro quando
eu me sentir sozinho, a palavra amiga
quando eu me senti perdido e o abraço
forte quando eu me senti sem forças.
Espero, porque sobre certos assuntos
não podemos ter certeza, que nossa
passagem por essas salas fique
marcada para sempre dentro e fora de nós.
Que nossas conversas e risadas
ressoem eternamente por esses corredores.
Que nossos erros e acertos sejam
a prova de que estivemos por aqui
de corpo e alma, por inteiro e
de que somos apenas humanos.
Neste momento, em que a estrada parece
tomar outros rumos fica difícil saber,
exatamente, o que dizer.
Fica difícil saber se agradecemos
aos pais, aos professores ou aos amigos.
Fica difícil dar peso aos sonhos ou
organizar as alegrias em fila.
É difícil estar aqui da mesma forma
que seria difícil não estar.
Escolhemos uma carreira, mas sempre
fica a dúvida se ela nos escolheu também.
Decidimos, sabe-se lá porque, viver
das palavras, das histórias,
viver das pessoas.
Achamos que seremos felizes
deste jeito e de nenhum outro.
Espero que estejamos certos.
Mas espero ainda mais que
sempre tenhamos a leveza e
a liberdade para mudarmos de idéia.
Que esta escolha, assim como
todas as outras que viermos a fazer,
seja o reflexo apenas da nossa vontade,
que ela nos acompanhe enquanto
nos fizer feliz e que tenha
a elegência de se deixar abandonar.
Desejo, porque estou meio cansado
de esperar, que o futuro seja pródigo
em coisas maravilhosas e, que estes
tantos momentos que vivemos até hoje
sejam apenas as primeiras figurinhas
de um álbum volumoso.
Desejo que estejamos sempre
cercados de pessoas.
Umas boas e outras más.
E que as primeiras nos ensinem porque
devemos nos orgulhar de sermos humanos
e que as segundas nos mostrem
como não devemos brincar.
Desejo força para lutar as batalhas
que valem a pena, elegância para escapar
das que não valem e sabedoria
para diferenciar umas das outras.
Aliás, desejo, mais do que qualquer
outra coisa, sabedoria.
Sabedoria para reconhecer as felicidades
cotidianas e as tristezas esporádicas.
Sabedoria para separar
o que é permanente do que é temporário.
Sabedoria para perceber quais
são nossos verdadeiros sonhos e
quais pegamos emprestados dos outros.
Tolice imaginar que passaremos incólumes pela vida.
Se houvesse alguma possibilidade
de escaparmos dos sofrimentos que estão
reservados para nós, estejam certos de que
nossos pais já a teriam descoberto.
Portanto, tratem de encarar
os reveses com o máximo de dignidade
possível e, mesmo quando não for possível,
finjam que é.
Porque todos nós vamos levar um tombo
vez ou outra, mas nada nos impede
de levantar bem rápido, olhar em volta
para se certificar de que o vexame
foi particular e continuar andando
como se nada tivesse acontecido.
A vida tem o péssimo hábito
de fazer germinar as sementes que
plantamos. Portanto, convém
tratá-la com generosidade.
O tempo passa independentemente
da nossa vontade. Então, não recomendo
que fiquemos na janela esperando
que as coisas aconteçam.
Nossas vidas são propriedade privada
e o poder de nos fazer feliz
é pessoal e intransferível.
Façamos deste tempo que passarmos
sobre a terra o nosso tempo.
Deixemos a nossa marca.
A decisão de não transformar
nossa existência em uma sucessão
de terças-feiras é nossa e não há nenhum
problema em não tomá-la desde que
saibamos dos riscos implícitos.
Eu aprendi que perdemos facilmente
as pessoas que amamos e que cada
encontro pode, verdadeiramente, ser o último,
diante disso só nos resta aproveitar
cada instante como se não houvesse
mais nada porque, como diria o ditado,
um dia a gente acerta.
Por fim, porque este discurso
está tão longo que algum desavisado
me confundiria com um ditador socialista
da América Central, espero, desejo ou
sonho (Escolham a palavra que vocês
preferirem porque o meu vocabulário
também está no fim) que possamos
nos lembrar desses quatro anos
com saudades boas, daquelas que
nos fazem rever fotos amareladas e
contar histórias engraçadas para os filhos.
Um dia, um professor me perguntou
que tipo de jornalista eu gostaria de ser.
Eu não soube responder.
Só sabia que pretendia manter vivo
o orgulho por fazer parte dessa espécie
cheia de tipos agitados e nem sempre simpáticos.
Só sabia que pretendia manter vivo
o orgulho de ser jornalista.
É disso que eu gostaria que vocês se lembrassem.
Que acima de tudo é preciso ter orgulho
de ser o que somos porque, enquanto tivermos
esta chama dentro de nós, sempre haverá uma saída.”
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