Estou mais tranqüilo. Ando em boa companhia.
Em sua coluna desta semana em O Estado de S. Paulo, o escritor Luiz Fernando Veríssimo reconheceu-se como parte da minoria que nunca leu Hary Porter. Não leu, e pelo adiantado da hora, nem vai ler. Nada contra o rapazola que, se pertencesse a turma de degenerados do Cambuci nos anos 60, certamente não escaparia ao delicioso apelido de Fuinha.
Por favor, caríssimo, me inclua neste rol. Só ainda não posso acompanha-lo na outra minoria que disse fazer parte – a dos sem-celular – porque dependo do ‘bichinho’ para série de compromissos. Quem trabalha de carteira assinada não pode se dar a certos luxos, meu caro. Mas, olha, não conte a ninguém, ok? Já reduzi consideravelmente minha dependência do tal. Há dias que não resisto. Tranco o danado na gaveta das coisas inservíveis – especialmente nos fins de semana – e digo a todos que esqueci o celular no carro, em casa e por ai vai.
Não é pouco caso, não. É que essa vida anda estranha. Tão estranha. Muito estranha mesmo.
II.
Querem ver, distintos leitores, a estranheza do dia de ontem? Vou lhes contar.
A propósito de conversar com um editor sobre o projeto de um livro ainda a escrever, voltei ao MSN depois de meses e meses de ausência. O moço iria viajar, eu estava sem celular e precisávamos trocar algumas informações sobre o que farei nesses dias em que ele vai ficar fora. Uma lan e um notebook resolveram o impasse. Só que depois do dever cumprido, com friozão que estava, resolvi continuar por ali e dar uma bisbilhotada nos recadinhos que me chegaram de amigos e conhecidos que, de resto, há tempos não vejo.
Grande erro. Confesso que saí de lá desacoroçoado.
Verdade verdadeira.
Olhem a primeira estranheza. Todos se disseram ‘morrendo de saudades’ e interessados em saber como estou. Quer dizer, nem todos. Alguns nem deram tchum para minha presença na telinha. Mas, vá lá. Faz parte. Entendo. Mas, os que teclaram – não é uma crítica, não, é só uma constatação – não fizeram qualquer menção de ocasionalmente nos encontrarmos. O que seria normal entre amigos, não?
Não. Não é mais assim.
Por nada e por tudo. Fiquei com a sensação de que estamos nos habituando a uma vida artificial, de sentimentos insossos, vagos, frágeis.
Explico que a coisa não é só comigo, não. Sempre que perguntava sobre outro ‘amigo’ comum, a resposta ia por aí: ‘teclei com ele dia desses, tá numa boa’.
Ou seja, viramos humanóides, extensão do PC.
III.
Outras estranhezas. Vou por na banca só para saber se com vocês também é assim. Sobrou falação da vida alheia. E as fotos que ilustram as páginas? Estamos mesmo no País de ‘giseles’ e ‘alemãos’. Que poses são essas, meninada? Olha a bandeira. Inclusive, algumas mais entregam que ilustram.
Leitores, tão cedo não volto ali. Socorro.
IV.
Li nos ‘jornalões’ e estranhei que o cantor/compositor Luiz Melodia está lançando um novo CD de nome “Eu Sou o Samba”. Que, aliás, deve ser bem legal, diga-se. Para tanto, ele foi gravar um clipe no morro do Estácio, onde passou a infância e lhe serviu de inspiração para várias canções.
A estranheza vem agora.
Melô só conseguiu fazer as locações depois que a produção conseguiu uma autorização com o chefe do tráfico local. Mesmo assim, ele e os técnicos foram recebidos e ficaram sob a vigilância de garotos munidos de armas de grosso calibre.
Eis a realidade do nosso Brasil brasileiro em tempos e na cidade do Pan.
Recentemente estive em Minas – já contei para vocês. Só não disse que ouvi de um mineirinho, que trabalhava no hotel onde me hospedei, a melhor definição para os dias atuais: “É, moço, vacilou um bocadim e, hoje, não tem perdão, a banana engole o macaco”.