Penso que a vida de cada um (e de todos) é feita de fases, ciclos, etapas – palavras que ensejam o desafio do nosso eterno recomeçar.
“Reinventar-se” – eis o termo que mais ouvi neste ano atribulado de 2014.
(Por favor, não me venham com a gracinha de lembrar o 7 a 1, gol da Alemanha, que paro já de escrever e só volto em 2015.)
Identifico nas comemorações do Natal um tanto dessas indeléveis mudanças. De há muito, as reverências ao nascimento do Menino Deus deixaram de ser apenas – e tão somente – uma festa religiosa. Embora seja intrínseca a proposta de unir e harmonizar as pessoas, o mundo…
Ao longo da vida, porém, tais comemorações ganham contornos e ‘definições’ diversas que se assemelham na forma, mas diferem no conteúdo.
II.
Quando criança, há um encantamento natural que se pronuncia com a chegada do mês de dezembro e têm seu ápice na na noite de 24 para 25 de dezembro. As casas enfeitadas, as luzes na cidade, os presentes, a chegada do Bom Velhinho, as histórias que nos contam, o presépio.. tudo nos sugere o lúdico, o magnífico, como se a vida fosse a admirável realização de um lindo sonho.
Para os jovens, esse trelelê de magia e sobrenatural dá lugar para o aqui e o agora. Valem mesmo as comemorações, o encontro com os amigos (e mesmo com os não tão amigos assim), as festas, o alargar dos horizontes, a diversão incontida e a certeza de que dias melhores (ou minimamente iguais a esses) virão…
A juventude é naturalmente a morada da esperança.
III.
Na fase adulta, a meta é não deixar a peteca cair. Temos de manter o pique e não decepcionar a expectativa das pessoas que nos rodeiam. Por consequência não podemos decepcionar a nós mesmos. Somos mais um instrumento da alegria alheia; dos filhos, especialmente. Dos amigos, dos parentes, do nosso grupo social.
O Natal tem um quê de compromisso: ser feliz ao lado de quem se ama e de quem nos sentimos próximos. É legal também, mas aqui já se tem a noção de que são momentos fugazes, sem a perenidade de tempos idos, tidos e havidos.
Sempre lembro o verso de uma canção dos anos 80, de Kleyton e Kledir:
“Ser feliz é tudo o que se quer”.
IV.
Essa felicidade compartilhada, entendo, ganha contornos mais plenos ao embicarmos na curva dos sessenta. A festa não é mais nossa, mas, inclusive e também.
A festa é de todos.
E aí nos alegramos com a alegria da criança,
com a euforia da rapaziada,
com a plenitude do adulto…
Mas, lá no coração do coração, olhamos toda essa manifestação de júbilo e paz pelas lentes da imensurável saudade das pessoas que se foram – e que, um dia, viveram, com a gente, os mesmos momentos, os mesmos quereres.
Elas se fazem lembranças presentes. Renascem em serenas partículas de luz e, como um novo milagre do Menino Deus, esquecemos que somos finitos e voltamos a acreditar.
Feliz Natal a todos…