O feriadão chuvoso passei em São José de Barreiros, uma das chamadas “cidades mortas” no Vale do Paraíba, ao pé da Serra da Bocaina.
Para amenizar o frio e deixar passar o tempo, a alternativa que restou foi folhear de velhos álbuns de fotografia à beira de uma improvisada lareira. Neles, reencontrei o jovem, de roupas algo extravagantes, olhar esquivo e longos cabelos, a quem chamavam jocosamente de Beto Rockfeller.
Era uma clara alusão ao protagonista da novela que, à época, idos de 68 e 69, fazia enorme sucesso.
Vou ser sincero.
Nunca fui propriamente um bicão de festas de granfinos ou mesmo um simpático malandro como o personagem, o primeiro anti-herói da teledramaturgia brasileira.
Com algum esforço e outro tanto de boa vontade, era possível enxergar em mim certa semelhança fisionômica com o ator Luiz Gustavo.
No entanto, o que mais nos fazia parecidos, segundo alguns amigos da onça e familiares debochados, era a aversão ao trabalho que demonstrávamos. Ele, na trama ficcional – e eu, na vida real.
II.
Dona Yolanda, minha mãe, não gostava nada nada dessa história. Ficava visivelmente irritada quando alguém perguntava em tom de crítica:
— Como vai o nosso Beto Rockfeller? Já arranjou algum emprego? Está mais do que na hora…
Diziam que eu não era lá muito chegado ao batente, reconheço.
III.
A coisa toda piorou quando fui dispensado do Banco da Lavoura de Minas Gerais depois de 45 dias da minha admissão.
Trabalhei mês e meio e peguei uma gorda indenização. Que, aliás, me permitiu ficar no estio as demais estações do ano.
Para minha alegria, e danação da Dona Yolanda.
Até ela reconheceu que todo o boato tem um fundo de verdade…