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Eu e Júlia Roberts, em Capri

Há quem diga que estava
escrito nas estrelas.
Eu prefiro dizer que, desde que a vi,
pressenti que aconteceria…

Até porque, convenhamos,
aquela música da Tetê Spíndola
(cadê a moça, meu Deus!)
é chatinha, chatinha.

De quem estou falando?

Ora meus queridos cinco leitores
segurem-se para não ficar
de queixo caído e com a auto-estima
lá embaixo. Como li certa vez
numa das crônicas do Veríssimo,
vou até ficar de pé para
teclar o nome dela. Um momento…

Júlia Roberts.

Pois é o que estou dizendo…

Quando nos encontramos?

No início do ano, em Capri.

Gostaram ou querem mais?

Melhor impossível, né?

Aquela ilha paradisíaca,
com suas ruas estreitas, vielas e
belvederes de onde se vislumbra
cenários extraordinários.
Mar, sol, sonho…

O que posso fazer? Foi lá que a vi.
Mesmo à uma distância considerável
– uns 20 metros — deu para
perceber que era ela
e estava feliz. Simpática.
Sorria para todos que passavam –
e, notei, desculpem a imodéstia,
especialmente para mim.

Não é invenção, não.
Era uma ruazinha comercial,
perto de onde fica a casa que
abrigou Pablo Neruda
quando o poeta visitou a Itália.

Nesse embalo, aliás, cheguei
cheio de poesia. Decidido mesmo.
Afinal essas coisas não acontecem
duas vezes, não. Quando olhei
firmemente nos seus olhos,
ela também me encarou.

Confesso: perdi o chão.
Que encanto era aquele?
De onde vem esse perfume?

Não sabia o que lhe dizer.
Iria tropeçar no inglês (que não domino),
engasgar no francês (que estudei no
velho curso ginasial), me derreter
no italiano (Te voglio tanto bene,
belíssima) e me maldizer no português,
se perdesse aquela chance…

O que fazer?

De onde vem esse perfume, meu Deus? –
perguntei aos botões do meu sobretudo.

— Vem da perfumaria, pai – respondeu
o estraga-prazer do meu filho.

Que, não contente, completou
em tom implacável de
quem conhece o pai que tem.

— O que o senhor faz, parado,
diante da vitrine da perfumaria?
Bonito esse pôster gigante
da Júlia Roberts, não? A gente olha
para ele e parece que ele fica
seguindo a gente com os olhos.
Interessante. Deve atrair
muitas clientes e alguns
distraidos também, né?

Não respondi.
Dei por encerrado o passeio.

Ele ainda ironizou.
Mostrou o celular e
distraidamente perguntou:

— Quer tirar uma foto ao lado
da foto da Júlia Roberts?

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