É gostosamente difícil permanecer concentrado no trabalho mais do que alguns instantes nessas tardes de sol.
Creio que, como eu, você também, amigo leitor, já se surpreendeu a olhar o horizonte por mais cinzento que seja, com pensamento a viajar por plagas nem nunca dantes imaginadas pelo seu imediatamente superior chefe. Na mesa ao lado, ele esbraveja e nada entre ondas e rodamoinhos de papéis a despachar.
E resmunga e bufa e tem piripaques…
Mal sabe ele que você agora invade o túnel do tempo e aporta num ancoradouro do lago de águas então serenas do Parque da Aclimação. Calça rancheira Far West (calção por baixo, para eventuais mergulhos), conga azulzinho e camisa esgarçada, pronto para o que der e vier. A aula no Grupo Escolar Oscar Thompson já ficou para trás (pela manhã, o tempo passa mais rápido), almoço bom e agora só espera chegar o resto do pessoal para um "racha" no barrancão.
Alguém falou que o Orelhano tem uma bola de capotão. Um luxo inimaginável para a garotada pobre da Muniz de Souza e arredores. Três times, no mínimo. Quem ganha, fica. Quem perde, espera vez.
É preciso sorte para cair no melhor time e jogar até se estourar. Todo mundo descalço, não há "tampa" de dedão que resista intacta, ralando até escurecer… Ô jeito bom de levar a vida…
Um pouco de tudo o que um garoto dos anos 60 viveu
em PARANGOLÉS. Leia no ícone ao lado: http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=487