Parte 3 – Final
XIII.
Eu que também sou do Cambuci
reencontrei Eufrázio há alguns anos.
Andava pelos Jardins à procura
de empresários que falassem de São Paulo
e do Carnaval paulistano – sempre tão questionado.
Qual era a de quem ficava
por aqui nesses dias? Shopping,
cinema, restaurante ou sambódromo?
XIV.
Muito por acaso, e com alguma fome,
entrei numa dessas cantinas genuinamente
italianas e bato de frente com
aquele respeitável senhor.
A fisionomia e o avantajado porte físico
insinuavam algo próximo entre o Faustão
e o Adílson Maguila. Mas, o jaquetão era
de fazer inveja ao José Sarney.
Depois de alguns segundos de hesitação,
logo nos reconhecemos.
Não fui propriamente um amigo
de Eufrázio. Éramos moleques da mesma
turma. Morávamos na mesma rua,
a Muniz de Souza. Chutávamos a mesma bola
e praticávamos as mesmas traquinagens
pelos quarteirões compreendidos entre a
rua Mazzini e a Piaí (hoje respeitável
Miguel Telles Júnior), a Lavapés e
a Almeida Torres e cercanias.
XV.
Fiz questão de ouvir Eufrázio,
agora, "Eufrázio, da Trattoria"…
Trinta e tantos anos depois, esse
circunspecto senhor se diz feliz.
Realizado não, pois no seu entender
a gente sempre quer um bocadinho mais.
É assim que os sonhos se tornam realidade.
Os meninos estão encaminhados na vida.
Estudam e vão ser doutor.
— Isso é uma outra felicidade –
completa, sem esconder a corujisse
de pai quase avô.
Não há nada na vida que se compare
a sensação de se plantar e colher.
O velho, um dia, lhe dissera isso.
O pai estava desconsolado.
A seca acabou com tudo fora plantado.
XVI.
Em São Paulo não era assim.
Mesmo com seu jeito áspero, a cidade
não fazia dessas ingratidões.
— Quem planta, há de colher. Tem uma
ciência aí, claro. Todo jogo tem lá suas regras.
Mas, fé e determinação são fundamentais.
Por isso, Eufrázio nunca mais
voltou a sua Brodocó e se diz
um paulistano convicto.
Paulistano como seus filhos.
Paulistano como o destino quis que fosse…
XVII.
Abri mão de outros entrevistados.
A história de Eufrázio (que poderia ser João,
José, Pedro, Paulo, Anísio, Whashington…)
é um pouco da crônica diária de cada um de nós,
nascidos ou não na Terra de Piratininga.
Um pouco de Nova York. Outro muito de Biafra.
São Paulo é o que é – e ponto.
Rima com o que se quer: sonho, poesia,
amor e esperança. Mas, se faz de
oportunidades, fé, determinação e…
óbvio, uma dose monumental de trabalho.
Despeço-me de Eufrázio e entendo
que viver em São Paulo é por si
só o ato de escrever uma crônica.
E o Carnaval, Eufrázio, como vai ser?
— Trabalhando, oras, poderia ser diferente?