"Carlos, vê se hoje você vai
numa igreja. Reze para o seu pai.
Faz oito anos que ele morreu."
Recado de mãe é recado de mãe.
(Será que a garotada ainda hoje pensa assim?)
Mas, esse foi dispensável, embora
impossível de não ser feito porque
é a cara da dona Yolanda.
Explico o dispensável. Sempre que
se aproxima o 1o. de setembro
chega, mansa e leve, a tristeza
que, desconfio, também atende
pelo nome de saudades.
Há outras saudades, mas hoje
não é dia de aborrece-los
com essas bobagens de
um coração vagabundo
e vira-lata como o meu.
Useiro e vezeiro em
imaginar coisas, trocar
os pés pelas mãos e entender
olhares como promessas
Mas, estas são ‘saudades’ com
aspas, menores, circunstanciais.
Quem sabe lembranças – boas ou ruins –
de encontros e desencontros
que acumulei vida afora?
Não me arrependo delas.
Nada, porém, se compara
ao vazio que velho Aldo,
de silêncios esclarecedores,
deixou pelos arredores
aonde vou e me perco…
O pai quase não falava.
Era homem de ouvir e concordar.
Só a dona Yolanda tinha direito
a testemunhar suas explosões que,
na verdade, eram apenas desabafos
naturais de um coração calabrês
e já abalado por desritmias…
Era tão simples entender
seus sábios veredictos.
Se o que lhe contasse fosse
um coisa boa, que valesse à pena,
então, sorria um sorriso leve –
os dentes quase não apareciam.
Mas, era bom vê-lo sorrir…
Se o relato fosse sobre algo que
não concordava (falar mal do Lula,
por exemplo), entortava as grossas
sobrancelhas e pendia a cabeça para
um dos lados e ficava a olhar o nada.
Se por acaso alguém viesse lhe falar
uma enorme bobagem, era divertido:
deixava o incauto com a história ao meio
e saía de fininho. Quando o cidadão
dava por si estava a falar sozinho.
Sinto tanta falta de consultar
esse oráculo chamado Aldão…
Tantas saudades. Que cá estou
a escrever sobre ele para amenizar
a falta que o velho faz.
Aliás, não é a primeira vez que
o trago para este nosso espaço.
Lembro, pelo menos, de três posts:
· Meu Periquitinho Verde – 30.03.2007
· Pai, 90 anos – 08.05.2007
· Pedro Paulo – 28.06.2007.
Mesmo sem ir a igreja, o post de hoje
veio mesmo em forma de homenagem,
com feitio de oração…