Foto: reprodução do Instagram/fernandamontenegrooficial
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Tal e qual Raulzito, não tenho qualquer compromisso “com aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Talvez seja mesmo um jeito de quem viveu a mocidade nos anos 70, como minha geração, para encarar a vida e suas perturbadoras nuances.
Sei lá…
Aquela coisa de hippies, descolados, groupies e afins. Samba, rock, MPB e derivados. Tudo junto e misturado.
Não nos cabe certeza de nada. A não ser o passo e o caminho.
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Isto posto, confesso que achei bacana a escolha da atriz Fernanda Montenegro como nova integrante da Academia Brasileira de Letras.
Bacana e importante, especialmente pelo momento que vivemos.
A postura da nossa primeira dama da teledramaturgia foi sempre em defesa da arte, da cultura e, por extensão, dos princípios democráticos.
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De outro modo, e muito sinceramente, preciso confessar minha contradição aos amáveis cinco ou seis leitores
Achei bacana também quando li, meses atrás, que o nome de Chico Buarque estava entre os cogitados para uma das quatro cadeiras em aberto na ABI.
Na mesma reportagem, soube que, cogitada a hipótese da candidatura, Chico tratou de desestimular a possível indicação do seu nome à ABL aos senhores que o procuraram.
Não aceitaria.
Assim como seu pai, o sociólogo e escritor Sérgio Buarque de Holanda, lá nos idos de 40, ele não tem hoje nenhum interesse em se tornar um “imortal” membro da Academia.
Sérgio, ao que me informei na reportagem, não se dispôs a conviver no mesmo espaço que o então ditador Getúlio Vargas, eleito em 1941 para a cadeira 37.
Faz sentido.
Chico não citou nome – mas, na ocasião em que li a matéria, me pus a imaginar o cantor/compositor, lado a lado, a parolear com notáveis como Fernando Henrique Cardoso e José Sarney nos tradicionais encontros para o chá das tardes de quinta-feira.
(Ou seria quarta?)
Faz sentido a recusa, não?
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Cada um é cada um, dizia a vó Ignês.
E eu faço o que posso para entender as partes e o todo.
Aplaudo a escolha da ABL.
Fernanda Montenegro, aos 90 anos, é daqueles raros brasileiros que nos faz renovar a esperança.
Aplaudo Chico Buarque.
Outro grandíssimo brasileiro, talvez a grande personalidade das Letras e das Artes em nossos dias.
Aproveito para lembrar que duas das minhas maiores referências na Literatura Brasileira – Rubem Braga e Mário Quintana – nunca estiveram entre os tais que habitam este panteão.
Nem por isso deixaram de ser a glória que são.
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Quintana, inclusive, tentou ser membro da Academia por três vezes.
Foi rejeitado em todas.
Arranjos políticos entre os “imortais” decidiram por outros nomes.
Em resposta à desfeita, o poeta gaúcho escreveu o Poeminha do Contra
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão… Eu passarinho!”
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O que você acha?