Escova era um dos nossos.
Dia sim e outro também, especialmente no cair da tarde e no subir da noite, reuníamos ali, naquele Sujinho que existia na esquina das ruas Bom Pastor com Greenfeld, onde o Sacomã torce o rabo e hoje, toda pimpona, está a Estação do Metrô.
Era o ponto de encontro do pessoal da Velha Redação assoalhada com os cabulosos de plantão, a fina flor do ócio e dos desvalidos do Ipirangão velho de guerra. Lá nos encontrávamos sem hora para chegar ou sair. Ouvíamos as histórias do Grande Nasci, mestre de todos nós e, entre um gole e outros mais, contávamos causos e prosas sem fim.
Escova, como já disse, era um dos nossos.
Tido, havido e reconhecido como o mais chegado à prática do esporte olímpico da trampolinagem. Era invejado por muitos, veemente criticado por outros. Mas, há que se reconhecer o homem tinha coragem e lábia.
Por isso, quando ele desaparecia da roda por uns tempos, todos já sabiam o motivo. Único e inabalável. Havia mulher nova no pedaço.
E ele embarcava com tudo nas águas. revoltas da paixão.
A nós, marujos de pedalinhos, cabia a tarefa suprema de justificarmos as ausências do amigo à Dona Encrenca, dignissima Sra. Escova, que, sem ter mais onde procurar, aparecia no Sujinho para saber notícias do paradeiro do maridão sumido de casa e da Redação há dias.
Então, dá-lhe reportagem especial na Amazônia em prol do meio-ambiente. Ou uma sigilosa investigação jornalística sobre uma nova rota de tráfico. Ou uma viagem inesperada para acompanhar determinada celebridade à Ilha de Caras …
Valia tudo para tirar Escova do aperto – e, modéstia à parte, éramos convincentes em nossas criações.
Às vezes, exagerávamos.
Mas, conformada, ela acreditava. Ou fingia acreditar…
Não me perguntem como Dona Encrenca nunca desconfiou do fato de que as aludidas reportagens nunca foram publicadas.
Não saberei explicar nem hoje nem amanhã, quando esta história continua.
Até lá…