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Filosofando

Diz o amigo Escova que está desolado.

Viajou no Carnaval e, tanto na ida quanto na volta, não atentou para nenhuma “filosofia de estrada”, daquelas que eram tão comuns aos para-choques dos caminhões do Brasil.

– O que está acontecendo com a nossa sabedoria popular?

Não havia reparado nesse imenso vazio cultural – digo para não magoar o amigo todo borocoxô, mesmo com a ensolarada manhã de sábado.

Tento consolá-lo e, sem muito pensar, digo que talvez todas essas, digamos, referências existenciais tenham migrado para a web, para as tais redes sociais.

Escova não gosta do que ouve. Olha estático e rígido para o copo de cerveja na mesa do boteco do Sacomã, e se faz ainda mais ensimesmado.

Tento consertar o malfeito.

Vou ao celular e capto no whats algumas “pérolas” com as quais os meus chegados se identificam ao lado das respectivas e simpáticas fotos.

Leio a primeira para o amigo:

“Um dia encontro a minha paz, na praia ou na cachoeira, agora tenho que plantar na roça pra vender na feira”.

Escova esboça um sorriso, e diz:

– Faz sentido.

Leio a segunda:

“Seja mais forte do que sua melhor desculpa”.

— Boa, boa… – saúda o amigo e pede que eu leia as demais.

“Se não desse errado, não seria eu”.

“Amar e mudar as coisas, me interessa mais”.

“Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”.

(Não curtiu muito essa última, e balangou a cabeça.)

Continuo lendo:

“Somos responsáveis pelo que cativamos”.

“Livrai-me de todo o mau olhado, mal amado e humorado”.

“Um punhado de bem. Um punhado de mal. É só misturar com água”.

Tem em inglês também – alerto.

“Hit the road, Jack!”

“Follow your bliss”.

— O que é a modernidade! Pena que eu não tenho celular.

Para terminar, leio a última do amigo e jornalista Vini.

“Continue nadando”.

Rimos, saudamos o amigo com um trago e mudamos de assunto.

– Vamos falar do quê, agora?

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