Foto: Arquivo Pessoal
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No lusco_fusco do fim de tarde em São José Barreiro, ouço o repicar do sino da igreja da praça da matriz.
18 horas.
Hora da Ave Maria, dizia Dona Yolanda, minha mãe.
E se punha a rezar.
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Viajava eu em meus insólitos pensamentos.
Remoía as dúvidas cotidianas, as memórias que se fazem histórias no Blog e, inevitável, alguma apreensão com o rumo das tribulações do mundo.
Anda tudo tão estranho, tão fugidio.
Distante das coisas simples, sensatas e sinceras.
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Serei sincero.
Sequer lembrava a tradição religiosa que as tidas e havidas metrópoles deram por esquecer.
Haja prédios a rivalizar com as torres das igrejas.
Haja vozerio, ruídos e sons dispersos a calar toda e qualquer manifestação mais sensível.
Qualquer silêncio soa agressivo e inadequado.
É o corre – dizem os mais jovens.
Tempo é dinheiro.
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Será?
Não tenho tanta certeza assim.
Também não tenho assim tanto dinheiro.
Dá pro gasto.
Sobra para o café no fim da tarde.
Sem luxos e maneirismos.
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Tem uma fala antiga do uruguaio José Pepe Mujica que define “o tempo como nosso bem maior”.
Não se deve desperdiçar um instante sequer.
Seguir de olhos firmes no horizonte:
“Pertenço a uma geração que quis mudar o mundo.
Fui esmagado, derrotado, pulverizado…
Mas, continuo sonhando...”
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Lembro o ex-presidente do Uruguai porque ele anunciou, ontem, que está enfermo.
Um grave problema no esôfago. Um mal com prognóstico “muito complexo”.
Mujica está com 88 anos – e se recusa a sair do seu país para fazer qualquer tratamento.
Confia nos médicos patrícios.
“Eu não vou sequer até a esquina” – disse ele ao agradecer as manifestações de apoio e carinho que merecidamente tem recebido.
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Mujica é figura rara.
Exemplo de fraternidade – e sabedoria.
Fiquei triste, triste, com a notícia.
Aproveito a hora da Ave Maria, o silêncio do vilarejo em que me encontro, a cumplicidade das montanhas que me rodeiam.
Invoco esse momento único – e a saudade da mãe – para humildemente rezar.
Por ele – e por nós.
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O que você acha?