Foto: Jô Rabelo
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Era declaradamente triste a data de 2 de novembro nos tempos de Tchinim criança_de_tudo no Cambuci, e de resto em toda a pacata aldeia de São Paulo.
No Dia de Finados – então se dizia Dia dos Mortos – era terminantemente proibido ser feliz.
Um riso que fosse, mesmo as crianças, eram admoestadas e ameaçadas com o castigo se não se comportasse.
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Era um dia para se respeitar e pensar nos mortos, diziam os pais.
Para ir ao cemitério do Araçá, onde estavam sepultados o vô Rodolfo e a vó Rosina, os italianos pais do pai.
Ambos se foram antes de o garoto nascer.
Talvez por isso Tchinim suspeitasse dos próprios motivos para ficar triste.
Ele podia brincar, claro.
Em casa, e em silêncio. Sem correria e, principalmente, sem esse negócio de ficar chutando bola.
– Vá ler um de seus gibis, vá…
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Desconfio que a mãe de Tchinim também não se sentia confortável nesse dia.
Não se ligava a TV Invictus. E o rádio só tocava música instrumental, dessas bem melodiosas e suaves.
Nadica de nada das radionovelas que a Dona Yolanda tanto gostava e, interessadíssima, acompanhava o dia todo na Rádio São Paulo.
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O pai tentava disfarçar.
Falava em visitar as irmãs no fim de tarde.
Dar um ‘pulo’ no Bar do Pepino para ver os amigos.
Mas, Tchinim desconfiava, ele lamentava profundamente o não funcionamento do Jóckey Club no feriado.
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As igrejas também eram bastante frequentadas.
As mulheres acendiam velas “aos entes queridos que se foram” e usavam um véu negro a lhes cobrir a cabeça.
Aliás, todos usavam roupas sóbrias e escuras.
E assim o tempo parecia se arrastar, minuto a minuto, penosamente.
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Por mais que não amasse as aulas do Grupo Escolar Oscar Thompson, Tchinim torcia para que o dia passasse depressa e logo voltasse a vida normal.
Era um menino sonhador – e, naquele instante, para ele, a vida não passava de uma grande brincadeira.
A boa nova é que já estávamos em novembro – o que, de certa forma, já era prenúncio de que o mês de dezembro não tardaria.
E o garoto já antevia, ansioso, as alegrias das férias escolares, do Natal e dos presentes…
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- Originalmente publicado em 02/11/2016
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