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Flora e o Trem Azul

É sempre bom iniciar um post falando de amor. Especialmente no dia em que se reverencia e comemora 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Básico, amar e ser amado é (ou pelo menos deveria ser) um direito inalienável de todos.

Aproveito para lhes falar um pouco da mais bela canção de amor que já ouvi, “Flora”, de Gilberto Gil, e também contar a vocês sobre um show inesquecível de uma cantora inesquecível.

(Se quiser baixar a canção para ouvir enquanto lê, vá ao site oficial de Gilberto Gil.)

II.

Por via das dúvidas, transcrevo abaixo os versos:

Imagino-te já idosa
Frondosa toda a folhagem
Multiplicada a ramagem
De agora
Tendo tudo transcorrido
Flores e frutos da imagem
Com que faço essa viagem
Pelo reino do teu nome
Ó, Flora
Imagino-te jaqueira
Postada à beira da estrada
Velha, forte, farta, bela
Senhora
Pelo chão, muitos caroços
Como que restos dos nossos
Próprios sonhos devorados
Pelo pássaro da aurora
Ó, Flora
Imagino-te futura
Ainda mais linda, madura
Pura no sabor de amor e
De amora
Toda aquela luz acesa
Na doçura e na beleza
Terei sono, com certeza
Debaixo da tua sombra
Ó, Flora

III.

Elis Regina não resistiu.

Ao ouvir a canção que Gilberto Gil acabara de compor para a jovem amada Flora, emocionou-se e pediu – ou seria ordenou? – para gravá-la. Antes mesmo que Gil respondesse afirmativamente, a Pimentinha arrematou:

— A mulher que inspira uma música tão linda, depois de ouvi-la, nunca mais será a mesma.

No entender de Elis, todas as mulheres mereciam versos e canções tão plenos de amor. Era fundamental para a humanidade.

IV.

A canção “Flora” fez parte do repertório do show “Trem Azul”, em 1981.

Nunca vi nada igual em termos de show de música.

Inesquecível.

Não lembro se já lhes falei dele por aqui.

Inaugurou um novo local para espetáculos em São Paulo, na zona norte. Chamava-se Canecão, se não me engano do mesmo grupo que administrava a tradicional casa do Rio de Janeiro.

Não teve o mesmo êxito em plagas de Piratininga. Mas, o sucesso da apresentação de Elis valeu toda uma existência.

V.

Ela estava inspiradíssima.

Solta, elétrica, sensível.

Nathan Marques foi o regente no lugar de César Camargo Mariano, de quem a cantora estava recém separada. Até por isso, creio, as interpretações de “Se Eu Quiser Falar com Deus”, de Gil, e “Atrás da Porta”, de Chico, levaram Elis às lágrimas.

Ela começou e terminou o show cantando “Trem Azul”, de Lô Borges. Uma versão, diria, jazzística, delirante. Tantos e tamanhos os improvisos de Elis, num dueto mágico com a guitarra de Nathan.

Não tenho mesmo outra palavra: inesquecível.

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