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Glauber e a verdade do Brasil

Foto: Divulgação/Canal Curta!

E lá se vão 40 anos sem Glauber.

O mais controverso nome do cinema brasileiro, o baiano Glauber de Andrade Rocha, morreu em agosto de 1981, no Rio de Janeiro. Septicemia foi a causa mortis. Tinha 42 anos. Deixou como legado obras como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967), entre outros títulos que o consagraram e, de resto, solidificaram a máxima do Cinema Novo:

Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.

Fico surpreso quando, ao remexer numa papelada antiga, encontro rabiscos de minha participação em um dos painéis do 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, promovido pela Revista Cult que, em 2011, reverenciou os 30 anos da prematura morte do notável autor.

Pois é, amigos, houve um tempo no Brasil – um breve tempo – em que iniciativas que privilegiavam a Arte e a Cultura eram bem-vindas e incentivadas.

Acreditem, e pura verdade!

Foi no auditório do Tuca na PUC de São Paulo, se bem me lembro.

Mas, não se espantem, não sou um cinéfilo.

Não participei desses debates.

Fui convidado a falar em outro painel. Sobre ensino de jornalismo, grade curricular, discussão entre teoria e prática, esses badulaques todos que me cabiam como coordenador de um curso de graduação em jornalismo.

Dei meus pitacos, como sempre faço, Nada de relevante, porém.

Se convidado fosse a falar de Glauber, só saberia dizer que o vejo como ‘gênio da raça’ num país em que o sonho ainda se fazia possível.

Aviso aos amigos, leitores e navegantes que:

Antes da falação, os zelosos organizadores abasteceram os incautos palestrantes com farto material sobre o cineasta.

Folheio agora o calhamaço preparatório – e, tanto tempo depois, tenho outra surpresa: o quanto o pensamento de Glauber ainda nos é imprescindível.

Faço uma breve coletânea das palavras de Glauber à Imprensa ao longo dos anos:

À Folha de S.Paulo, em 14.10.1976:

A contradição é o princípio da democracia.

Há necessidade do diálogo e do antidiálogo, pois da discussão nasce a luz.

Ao site Tempo de Glauber:

A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore,

Mas, sim, a linguagem popular de permanente rebelião histórica.

Ao Jornal da República, em 03.09.1979:

Artista não pode trabalhar pensando em público, quem pensa em público é político.

Ao Jornal de Brasília, em 04.01.1079:

O jornalismo é uma verdadeira literatura moderna.

Mas o jornalista escreve reprimido, literalmente.

Tem medo de soltar a veia literária porque há as convenções do jornalismo.

Deveria ser o contrário.

À Raquel Gerber, em Roma, no ano de 1973, Glauber foi mais contundente:

As manifestações do povo são as mais importantes.

E eu filmo essas manifestações.

Por isso é que convencem.

Convencem até os inimigos porque tá lá a verdade.

Uma questão que hoje me aflige entre tantas e tamanhas:

Por onde anda aquele Brasil onde o sonho era possível?

*Glauber morreu em 22 de agosto de 1981, no Rio de Janeiro.

* Texto original publicado em 22/08/2011

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