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Gonzagão e o circo

Luiz Gonzaga, o rei do baião, fazia série de shows por cidades nordestinas.

Entre um e outro município, ele seguia de carro com o motorista, tempo que aproveitava para um providencial cochilo e outro tanto descanso.

Certa tarde, próximo a uma pequena cidade nos confins de Pernambuco, teve sua soneca interrompida pelo comentário do homem que estava ao volante:

— Mas, ora vejam, que cirquinho mequetrefe!

Mal despertou, Gonzagão olhou para a beira da estrada, viu aquele cenário de pobreza, a lona repleta de buracos eremendos, e comoveu-se.

Talvez tenha lembrado os seus primeiros anos como sanfoneiro. Talvez, fosse apenas curiosidade.

Pediu para que o motorista aproximasse o veículo – e ficou ali. Imaginando coisas…

Logo apareceu o dono do circo que reverenciou a presença do “o rei do baião”.
Gonzaga então o cumprimentou como se fossem velhos conhecidos.

— E aí, meu conterrâneo, como vai a lida?

— Assim, assim, respondeu o homem. – A gente vai tocando do jeito que Deus permite.

— Hoje tem espetáculo?, perguntou o cantor.

— Tem, sim, senhor. Como não haveria de ter? É daí que tiramos nosso mirrado sustento.

Então, Gonzagão abriu aquele sorriso luminoso, que lhe era característico, e anunciou:

— Pois, avise a gente desta cidade e das redondezas que Luiz Gonzaga, o rei do baião, vai se apresentar nesta noite no seu espetáculo.

O humilde homem assustou-se com a nova. Pensou que fosse brincadeira.

Lua foi enfático, então:

— Vá homem! O que está esperando?

Dito e feito.

À noitinha, conforme o prometido, Gonzagão cantou para um circo apinhado de fãs.

Um sucesso.

Terminado o espetáculo.

Lá vem o senhorzinho repartir a arrecadação com o cantor:

— Sei que o nosso circo nunca teria condições de pagar a honra de receber em seu picadeiro tão ilustre artista, mas está aqui metade do que conseguimos nas bilheterias. É pouco diante do tamanho da nossa gratidão.

Aí foi a vez do coração de Lua falar:

— Vixe! Pegue essa dinheirama e compre uma lona nova para o circo. Da próxima
vez que passar daqui, não quero cantar ao relento…

Assim era Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que morreu em 2 de agosto de 1989.

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