Escrevia sobre música popular brasileira em qualquer folhetim que me pagasse uns trocados. Muitas vezes, demorava meses para ver a cor da grana. Em outras tantas, nada recebi – e deixei pra lá.
Era durango que só. Gostava daquela vida.
Estava entre os vinte e os trinta, e feliz.
Quem não é feliz nessa idade?
Oxi…
II.
Entrevistei Martinho, Gil, Caetano, Benjor (então Jorge Ben), Gal, Bethânia, Elis, Paulinho, Nana, Milton, Ivan Lins, Gonzaguinha, Alceu, Djavan, o monossilábico Beto Guedes, Guilherme Arantes, Marina, Adoniran, João Nogueira, Zizi Possi, Zezé Motta (na fase do filme Xica da Silva chegou a gravar um LP), Toquinho, Belchior, Melodia, Sergio Ricardo, Erasmo, Roberto (em um show que fez no Clube Atlético Ypiranga), João Gilberto (numa coletiva inchada de repórteres num hotel lá na rua Augusta) – tanta gente que nem me lembro de todos os nomes.
Faltaram Nara e Chico.
Sobrou Raul.
III.
Uma entrevista com Raul Seixas foi qualquer coisa de inesquecível. Ainda hoje repito a frase com que o Mago encerrou nossa conversa (estávamos eu e o amigo e jornalista Clóvis Naconecy naquela tarde):
– O importante é deixar nossa impressão digital no mundo.
Falou de um jeito bom, de quem acredita nas pessoas.
Elogiou a iniciativa (minha e do Clóvis) de montarmos um pequeno jornal regional para dizer “as nossas verdades”. Lembrou os versos de “Tigresa”, de Caetano Veloso:
“E eu corri pro violão
Num lamento
E a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento”
Saímos (eu e o Clóvis) da sede da Wea, em Pinheiros, nos achando os tais. Em seguida, Raul atenderia aos repórteres de “O Estado”, “Folha”, “Veja” e outros nanicos da praça.
IV.
Que bobagem…
Éramos jovens e inconsequentes, como nos definiam dois experientes jornalistas e mestres, o Marcão e o Nasci, da antiga redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
Jovens, inconsequentes – e felizes.
V.
Acordei um tanto nostálgico hoje. A manhã nasceu azul e eu – sem talento para o violão e ainda durango – corri pra tocar o Blog movido a recordações e saudade …